sábado, 26 de fevereiro de 2011

As palavras que nunca são ditas

Falar ou fugir? Fugir ou falar? Eis a questão. Há uns anos o marido de uma amiga me falou isso... As pessoas preferem fugir a falarem. Em especial os homens. É verdade. E o mais engraçado disso tudo é que estamos tão acessíveis e conectados as pessoas, e ao mesmo tempo tão distantes emocionalmente delas.

Por incrível que pareça a comunicação ainda nos assusta e afasta. Nos expomos cada dia mais através de diversos canais, mas nos distanciamos das palavras e sentimentos que deveriam ser ditos. Acredito que isso acontece por que as coisas estão tão sem critérios, distorcidas e banais que não sabemos mais como agir. Nossas emoções funcionam com valores antigos, mas nossas ações devem funcionar com valores modernos. A falta de entendimento e as inúmeras opções possíveis nos paralisam, nos deixam sem ação. Restando-nos apenas o “mudismo”.

Porém, os ruídos, desentendimentos só são sanados quando conversados, discutidos. Vejo casais que se separam muitas vezes sem falar nada, ou uma das partes é pega completamente de surpresa com a partida da outra. Será que essas pessoas não conversavam? Como podem morar sobre o mesmo teto e não perceberem que há algo de errado?

Por que se comunicar é tão difícil?

Simples. Verbalizar é traduzir sentimentos que nem sempre queremos assumir. Nem sempre queremos assumir que amamos, que estamos tristes, ou que podemos perdoar. Os sentimentos são frágeis, ferem e nos deixam expostos, muitas vezes vulneráveis. Além disso, se comunicar abre um espaço para ouvir que será que estamos dispostos a isso? Falar e ouvir? Evoluir nos pede mudanças, ação. Aí voltamos ao início... será que não é mais fácil simplesmente fugir, deixar quieto, paralisado, a cargo do tempo em arrumar naturalmente as coisas?

Estava vendo um filme, que me fez pensar sobre isso. Cartas foram trocadas durante anos onde palavras foram ditas, mas sentimentos não. Uma vida inteira privada em ser vivida pela ausência de sentimentos verbalizados. Perguntas que não foram corajosamente feitas, ou respostas que nunca foram corajosamente respondidas. E assim, as vidas seguiram naturalmente mudas, como deveriam seguir. Vejo relações entre pais e filhos que ficam incomunicáveis por anos, mas que clamam por falar. Anos que são quebrados com apenas um “oi” inicial.

Mas, por que deixamos as coisas chegarem a esse ponto?

Quando a não-ação ganha espaço com o tempo, os sentimentos passam, as palavras também e aquele espaço para a comunicação perde o sentido. Não há lugar para uma conversa que deveria ter acontecido tempos atrás. E magoadamente as pessoas se afastam.

Confesso que mesmo sendo uma apaixonada eloqüente pela comunicação me vejo não a utilizando - por ser mais apropriado. Hoje com tudo tão dinâmico e mal educado, a comunicação muitas vezes se torna inapropriada e rotulada como um DR por pura falta de coragem em se comunicar. Afinal, você vai lá conversar com o carinha que te largou na pista? Claro que não!

O termômetro está exatamente aí. Quais palavras realmente devem ser ditas?

Aquelas que não ferem. Pelo contrário. As que não ferem nem a mim, e nem a você. As palavras devem ser ditas quando validas à pena – para o outro e para você também. Pois muitas vezes o não falar gera mais sofrimento do que falar erradamente qualquer coisa. Nem que seja só para aliviar uma ansiedade sua. Mas, nesses casos, vá preparado para não ouvir nada, ou tudo.

Acredito que só sabemos a realidade das coisas e dos sentimentos quando falados. Lógico que temos senso crítico, percebemos os fatos, as atitudes ou a falta delas, mas essa percepção é sempre uma conclusão nossa. Nesses casos é que devemos avaliar se vale à pena ir lá perguntar “E aí, qual foi?”.

Criar esse espaço para comunicação, para entendimento, para transbordar sentimentos dá trabalho, mas sempre é muito proveitoso, quando feito com sinceridade e não por vaidade. E justamente por dar muito trabalho, não joguemos “pérolas aos porcos” ou desperdicemos o melhor de nós com situações ou com quem não merece. Afinal , “quem não sabe brincar na terra de Marlboro não desce para o play”, não é mesmo?

De qualquer forma, continuo perguntando a Papai do Céu, por que não posso mandar umas pessoas simplesmente a Merda!!

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