sábado, 26 de abril de 2014

Para ser aplaudida de pé

Texto para o jornal O Globo de hoje na revista de homenagem aos 120 anos de Ipanema - 26.04.2014 pág 26

Quando me convidaram para homenagear os cento e vinte anos de Ipanema, logo me senti a própria Helô Pinheiro da literatura, mesmo sendo uma garota de Ipanema qualquer. Até porque em tempos modernos de Farme de Amoedo, não seria eu, mas talvez os garotos que despertassem os olhares da nova Bossa Nova.

Só Ipanema tem essa democracia sofisticada, de todos, mas não para todos. É preciso saber saborear Ipanema com seu sal e gosto amargo azedado pela desordem e regresso em um fim de tarde cor de rosa com duas pedras de gelo, ou sem colarinho.

Ipanema é poesia, Ipanema é carnaval. Ipanema é Vinícius e Tom, sem sair do tom.

É o pôr do sol mais aplaudido do mundo deslizado nas curvas do Arpoador de uma legião de varredores de mar fazendo stand up paddle, e surfistas – cada um na sua onda.

É ter um calçadão preto e branco estampado em canecas e suvenires que passeiam por todo mundo. Coqueiros que brincam com malabaristas. Showzinhos no verão. Praias marcadas por arco íris ou as mais belas pessoas, com ou sem topless.

É ter artistas mapeados em ruas, santos e generais que cuidam das praças, hippies e legumes apresentados em feiras; e seus bons irmãos Copacabana, Lagoa e Leblon sempre por perto.

Ipanema tem até chinelo!  Não teria casa de cultura, igrejas, teatros, cinemas, restaurantes, bares, faculdade, colégios e creches capazes de invejar um shake de Dubai?

Chegar em Ipanema é fácil: pode ser por mar, por terra ou por debaixo do chão. O difícil é sair dela. Ok. O difícil mesmo é estacionar nela. Por isso, o melhor e bem mais agradável é circular a pé ou de rodinhas.

Ipanema tem jeito gerúndio, aquele que fica ficando, que sai logo cedo e quando vê já é noite iluminada. Que pede a primeira cerveja pela manhã e quando vê já é de manhã.

Podia ficar mais cento e vinte anos falando de Ipanema, de sua poesia imutável e de como fica mais linda por causa do amor, mas preciso dar uma corrida na praia e passar na padaria antes de ir para o trabalho. Afinal, mesmo com cheiro de festa e sabor de parabéns, hoje é mais um dia qualquer aqui em Ipanema.

Por Ana Corujo
Abril de 2014 – para o Jornal O Globo.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

E o zap zap não para, até que ele te para...

Recentemente entrei na traseira de um carro por estar no zap zap do whatsapp - trocando alguma frase do Chapolin sincero da vida, ou conversando qualquer outra futilidade por puro hábito.

Ver e não responder, eis a questão...

Este hábito de zap zap para lá zap zap para cá, além de ser um enorme perigo no trânsito tem nos gerado grandes riscos.

Sorte que não me machuquei, ou coloquei em risco a vida de outras pessoas, mesmo tendo colocado em risco a vida de outras pessoas. Apesar de ficar um mês sem carro, pagar uma franquia milionária e descobrir todos os pontos fracos do meu seguro; por incrível que pareça gostei de voltar a andar de metro. Como o whapp não pega, posso ler e observar as pessoas. Elas são interessantes, sabiam? 

Se bem que depois de compartilhar de uma manifestação e um incêndio, que prejudicaram minha ida e volta para casa, me questiono sobre o orgulho de ser brasileira. Se é que algum dia tive – e sinto falta da minha individualidade nada compartilhada de quatro rodas.

Nos habituamos a ser multifocais e nessa multifocalidade assumimos o risco de gerar um acidente por aí, ser assaltados, baixar (e muito) a produtividade no trabalho, deixar de aproveitar momentos inteiros com alguém, trocar mensagens com a mulherzinha da esquina quando a mulherzinha em casa pode saber e você se f..., fazer vídeos que podem gerar muita dor de cabeça ou fotos que até o direito de imagem te daria uma bronca. Sem falar no pôr do sol deixado de lado por qualquer Diva depressão.

Nessa curva de aprendizado do preciso errar para aprender, aprendi que é burrice ter que pagar para ver que a vida te para quando não conseguimos dosar nossos excessos. Tomara que Deus não mande um whatsapp para a sua família informando que você passou dessa para melhor... 

O pior será se ela responder:  Já foi tarde.