quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Libertinosa Mudança

Abrindo os armários, arrumando as gavetas, limpando as prateleiras, me relembrei.

Mudar, nos obriga olhar nossa história e a empacotar o que realmente importa.

Dentro de nosso mundinho, em gavetas, armários e prateleiras, empilhamos lembranças, sensações e amores, que muitas vezes, ficam invisíveis, perdidos e esquecidos no dia-a-dia. Convivemos com esse enorme “brechó” diariamente sem perceber, mas que quando mexe ou arruma, parece mais “casa de marimbondo” com tudo que traz a tona. Uma reviravolta de sentimentos, momentos, lembranças e recordações, misturadas em papeizinhos, suvenir, caixinhas e “tralhas” que não usamos mais – mas, que por alguma razão não conseguimos nos desapegar ou desocupar. E por que isso?

Por que nossa história é só nossa e deve estar ali por perto, para que possamos olhar, sentir, cheirar e tocar - na certeza que tudo aquilo existiu. Deixar essas coisas irem, ou se desapegar delas é como se deixar ir também. Costumamos buscar nesses “guardados”, parte de nós que deixamos de lado, ou que se perdeu. Assim, nos tornamos grandes museus de nós mesmos.

Nessa arrumação voltei à infância, ao colégio, festinhas e viagens. Reencontrei entes que se foram, pessoas esquecidas e grandes amores. Relembrei os livros que li e tudo que já estudei. Encontrei cartas que nunca enviei, coisas perdidas e quebras que nem tinha mais esperança em encontrar. Ri com fotos, bilhetinhos, diários e filmes. Me deleitei numa grande sessão naftalina.

Mas, tudo isso, sempre existiu dentro mim – e não só fisicamente em gavetas, prateleiras e armários. Porém, tem horas na vida que vale se reorganizar ou se rearrumar: limpar, descartar, rasgar, passar adiante, doar, queimar, triturar, despachar - se desapegar mesmo - de objetos, lembranças, sentimentos e até pessoas que hoje não servem ou cabem mais em qualquer contexto, espaço ou situação.

Nessa “limpa” só vale guardar os pilares de nós mesmos, o que resgata e soma, ou algo que simplesmente não queremos esquecer - nem nos mínimos detalhes. Afinal, só está livre para voar, aquele que se prepara para decolar.... FUI!