terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Limpando o limbo emocional


Falar é fácil, escutar é difícil.
Criticar é fácil, mudar é difícil.

A vida do outro é fácil, ser você é difícil.



Cada um tem o seu limbo emocional, sabe onde o calo aperta, mas não como tratá-lo.


Limbo emocional? Pois é... o limbo emocional são aqueles caquinhos internos, pedaços quebrados, vazios acumulados ao longo da vida que queremos varrer para algum lugar, nem que seja só por uma noite.

Nos tempos antigos, não existia silicone, cirurgias plásticas em cada esquina, crediário, internet, celulares, redes sociais, carros, e milhares de facilidades sem compromisso. Existiam pessoas, memória, comprometimento, investimento, olho no olho, palavras ditas. Antigamente para se conhecer alguém era preciso ir pessoalmente conhecer esse alguém - se expor, se arriscar, estar interagindo, no estilo telemarketing como interface única. Hoje a gente se expõe explicitamente em telas multimídias só para não se expor pessoalmente.

Antigamente a falta de silicone ou um nariz grande, era compensado com um alto investimento em si, já que não podiam ser comprados como comida pronta ou encontrados em prateleiras: vai um nariz ai?

Quando se é interessante, a gente até esquece o tamanho de um nariz e a falta de mL de peitos. A palavra tinha valor e o compromisso também... E por isso, sem maiores delongas, a sensação de segurança emocional era maior e sofria-se menos. Sem maiores delongas novamente, naturalmente o ser humano era mais interessante, e talvez por isso tínhamos grandes artistas, poetas e gênios que perdurarão atemporalmente e hoje temos as fotos instantâneas, o funk e fenômenos pontuais - que já esqueci.

Antigamente tínhamos o tempo como um amigo, hoje o temos como o pior dos inimigos.

E por não termos tempo, ou intimidade, o limbo emocional vai aumentando. E, para tratá-lo de forma prática, instrumentos são criados para servirem de repositório desses caquinhos que não temos tempo para juntar, mas que queremos nos livrar para aliviar. E assim, vamos reunindo os vazios de nós por aí no vício, nas compras, no Tinder, no Lulu, no facebook, nas prateleiras, e em todas as trincheiras que podemos nos apoiar, como tábua de salvação.


Depois dessa enorme volta na roda gigante, levo meu tapete com os caquinhos escondidos debaixo dele à terapia, afinal mesmo não estando fácil para ninguém, para todo mal há cura, já dizia o Lulu.

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