segunda-feira, 30 de julho de 2012

Simplesmente adaptável


Cheguei em casa, estava tudo diferente, mas me adaptei. No início foi estranho, era novo, mas me adaptei. Me tiraram tudo, o chão, a segurança, os sapatos e você, mas me adaptei. Deixei de andar, pular, correr, mas me adaptei. Ganhei casas, palácios, carros e mulheres, e me adaptei. Perdi filho, emprego, casamento, a honra, o saco, mas me adaptei. Me adaptei.

O ser humano é assim, adaptável. Talvez essa capacidade de adaptação seja a consequência da vida ser tão imprevisível e sermos obrigados a viver, muitas vezes, uma vida que não escolhemos viver.

Nos adaptamos com as coisas boas, ruins, com o defeito alheio e até com a ausência. Nos acostumamos com as nossas falhas, deficiências, tolerâncias e intolerâncias. Simples, ou não, assim.

Às vezes me pergunto se certos acontecimentos na vida são capazes de nos mudar para sempre, ou se com o tempo, devido a nossa enorme capacidade de adaptação, voltamos a ser como antes.

Uma perda, a superação de uma doença, o renascer de um acidente, uma nova condição, ou qualquer que seja o motivo pelo qual escrevo este texto, são capazes de nos transformar para um significado a mais, ou apenas nos modificam por um tempo? Tempo este que nos tende a voltar para o eixo de nosso pêndulo.

Eixo de nosso pêndulo?

Sim, nossa essência é como um pêndulo.  Se sou uma pessoa intolerante, por exemplo, com algum esforço e dedicação, posso empurrar esse pêndulo para um nível mais tolerante. Da mesma forma que posso leva-lo para o lado mais intolerante. Porém, este mesmo pêndulo, tende naturalmente voltar para o seu eixo original, nossa essência.

Pois é, do jeito adaptável que somos, entendo que só quando há transformação, de dentro para fora, é que nos adaptamos com o melhor de nós. 

quarta-feira, 18 de julho de 2012

João e Maria do século XXI



João e Maria brincavam no Facebook.
João convidou Maria para sair do computador e brincar na floresta.
Maria aceitou, mas levou seu iphone super conectado – e com GPS.
Ao contrário da história infantil, onde os irmãos João e Maria ao brincarem na floresta, se perdem e encontram uma casa de doces.
Nesta história, João não era irmão de Maria. Nas famílias, ou melhor, nas histórias de hoje, as crianças são filhas únicas.
João, também não queria um pé de feijão, mas sim viver um amor com Maria, de forma natural e saudável.
João queria viver um amor orgânico.
Mas, o que seria um amor orgânico?
Explica, João:
“Aquele criado sem agrotóxicos modernos, com um cultivo do dia a dia sem a pressa da tecnologia, onde o carinho é cultuado nos gestos mais simples e não numa tela de touch. De momentos únicos, com o  sorriso tirado de um elogio e não de uma nova maneira de fazer um download rápido. Que se fertiliza de conquistas diárias, com trocas, com declarações às vezes em um olhar, em um toque,  desses que não se encontram em prateleiras -  e que não possuem bluetooth ativado. Aquele cultivado com água, vento, sol, chuva, frio e não com a proteção de um cercado, e nele há pragas e as pragas são resistentes pela persistência do amor. Que gera um relacionamento que não admite aditivo nem conservantes e em hipótese alguma aceita variedade transgênica ou de parceiros”.
Mas, apesar de sentimentos arrancados com raízes de um coração e toda acessibilidade a Maria.
João, nunca conseguiu falar com palavras o que Maria nem sabe se um dia gostaria de ouvir.
E assim, a História de João e Maria seguiu compartilhada nas redes sociais de doces, cheia de cores, sabores, amigos, acolhimento... todos curtindo um amor tântricamente moderno de inbox solitariamente mal assombrado.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

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Pitágoras orientou: “Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo”.  Foi assim que me senti depois de entender que nossas semelhanças nos aproximaram e que nossas diferenças fizeram você se afastar de mim, ou melhor, pedir que eu me afastasse de ti.

Uma pena, uma enorme pena! Pois, tem sentimentos que formulas matemáticas não explicam, mas a química sim. Pensei em contestar e lutar por algo tão simples que me invadiu, tocou, mas desisti. Depois de uma certa idade ficamos covardes. A rejeição deixa de ser um problema e passa a ser a aceitação do “não era para ser”.

Mas, como eu queria que fosse, como queria poder viver, essa brisa que entrou em meu coração purificado, limpo, oco, que fazia até eco – e que já havia seguido as orientações de Pitágoras antes de você chegar. Pena que você faltou a essa aula de matemática e eu coloquei ingredientes demais na de química e acabei reprovada.

Mas, deixei você entrar, é você, o politicamente correto e intelectualmente perfeito. Me tratou como rainha. Mas, apesar da biologia perfeita, como fui reprovada em química, nossas composições não foram exatas, e sem muitos resultados positivos.

Assim, terminamos todos juntos e sós na aula de literatura lendo “João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém”... e como, na poesia de Drummont, o amor se perdeu e nós perdemos o melhor de nós. 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Agradecimento aos pequenos.


Administrar o aparentemente inadministrável. Foi uma situação comum que presenciei recentemente. A grandiosidade das pessoas está em sua alma, na sua capacidade de administrar e se doar em tudo e com tudo. Porém, as pessoinhas, sabe aquelas pequenas? Preferem fugir e não administrar as situações ou sentimentos por ser aparentemente mais simples, fácil, ou enganável. Afinal, brasileiro tem memória curta mesmo!

Quando situações denominadas inadministraveis acontecem, muitas pessoas simplesmente fogem, se calam, fingem que não está acontecendo, te deixam ou se deixam.

Inadministrável é tudo aquilo que não se consegue administrar. Explicação obvia? Nem tanto! Pois se fosse, não haveria tantos conflitos, covardias e pequenices – se assumiria a incapacidade de administração, e quem sabe pós reconhecimento, tudo se ajeitaria. Vai saber?

Entendo que esta falta de capacidade de administrar o que para os grandes aparentemente é simples, é o que difere um ser grande de um ser pequeno. Os grandes não fogem; transformam conflitos em conversas, desacordos em entendimentos, letras em músicas, acordes em melodias, ideias em resultados, pinceis e tintas em quadros, querer em conquistas, admiração em amor, sonhos em realidade.

Já os pequenos deixam você esperando, sem resposta, sem saber. Deixa de viver, experimentar, seguir. Deixa o medo, a fraqueza, a incapacidade dominar e mais do que magoar os grandes, deixa a oportunidade de ser grande passar.

Os grandes transpõem obstáculos, os pequenos recuam, paralisam, fogem, choram quando os veem. E a cada obstáculo recuado, menos de si se tem. E talvez seja por conta dos obstáculos que os grandes ficam cada vez maiores e fortes e os pequenos cada vez menores e fracos.

A vida vai ser sempre assim, menos e mais, positiva e negativa. Na linha do que o bem precisa do mal para existir. E, sendo assim se não fossem esses pequenos não seríamos tão grandes!