terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Jantar vegano

Conto-crônica escrito para o último Clube da Leitura do ano: Noites de Alface.
Este conto perdeu no desempate... que venha 2014!! Obrigada Clubinho.

Um casal fazia 10 anos de casados. Para comemorar Rafael Gustavo, levou Olívia para jantar no restaurante mais badalado da cidade de um Chef muito famoso. Fez reserva, se arrumou, passou o perfume comprado na última viagem e conduziu Olivia para aquela noite comemorativa.

Sentaram-se a mesa, ele muito sorridente e ela indiferente com o ambiente moderninho de decoração contemporânea, digna de comentário da Vejinha.

- Aconteceu alguma coisa, amor?
- Não...
- Quer trocar de lugar?
- Não...

Interrompendo aquele papo agradável, o garçom os entregou os cardápios, a carta de vinho e serviu a água. O menu parecia uma bela orquestra de pratos e Rafael Gustavo se sentia como uma criança na piscina de bolas - tentando decidir o que iria degustar. Já Olivia, que sempre era indecisa, dessa vez, estava quieta como chegara.

 - Quer que eu escolha seu prato, amor?
- Já escolhi.
- Já? Você sempre foi tão indecisa para escolher seu prato, o que aconteceu?
- Mudei.

Rafael Gustavo, ainda surpreso com aquele comportamento sem DRs prévios, ficou quieto para evitar DRs futuros.

- Já posso anotar os pedidos? – perguntou o alto garçom.
- Sim... eu vou querer o cordeiro e para ela, acredito que seja o pato... as mulheres adoram pato – sussurrou Rafael Gustavo tentando se aproximar do alto garçom.
- Errado. Não vou querer o pato.
- Não vai? Vai querer o quê, então?
- Quero um prato de alface.
- Um prato de alface? Que sentido faz isso, Olivia?
- Faz todo o sentido, Rafael Gustavo. É assim que me sinto depois desses 10 anos de casamento...
- Você se sente um alface?
- Um alface não, um prato cheio, entupido de alface.
- Olivia! Não estou entendendo!
- Alface ocupa, mas não tem gosto de nada, Rafael Gustavo. Vale menos que dois reais, e a gente só come por obrigação... de resto, Rafael Gustavo não serve para nada.
- Olivia, o que está acontecendo? O que você está querendo com esta metáfora idiota?

Na altura do campeonato, o alto garçom não sabia se ia embora ou ficava lá que nem um coqueiro para anotar os pedidos.

- Vou deixá-los a sós, quando decidirem os pratos, me chamem... – e saiu.

- Olívia, isso só pode ser uma grande brincadeira sua...
- Brincadeira minha,Rafael Gustavo? Brincadeira é depois de 10 anos se sentir um prato de alface, isso sim.
- Olívia, para quê você faz tanta terapia, ioga e meditação? Se ia pirar, poderia ter economizado um bom dinheiro. Ou virou vegana agora?
Rafael Gustavo, para mim este é o fim, quando se vira um alface é porque a relação chegou ao final...

Rafael Gustavo levantou a mão e chamou o garçom.

- Decidiram?

- Sim....para ela um prato de alface e para mim uma abóbora, porque se essa daí ainda procura um príncipe encantado, eu já virei abóbora há muito tempo.