terça-feira, 11 de setembro de 2012

Adeus 2012


Conto escrito para o Clube da Leitura de 11/09 - Mote da semana: Suicidas.

Acordei, minha cabeça doí. Ainda posso ouvir o som do frisson da noite passada. Levanto e vejo a roupa branca no chão, as bebidas espalhadas. Me olho no espelho e nada mudou.
Ando pela casa até chegar à cozinha, e até então, nada mudou desde ontem à noite. Pego o novo calendário e prego na geladeira. Jogo fora o velho e - transformar o amanhã em hoje, jogando fora o ontem – continua sem mudar nada.
Abro a janela, o sol brilha, e vejo a mesma paisagem comum de anos. Vou te procurar no quarto esquerdo. Abro a porta e está vazio. Há quantos anos?
Volto para a sala e aqui também, nada mudou. Decido ir ao quarto da bagunça, e lá, encontro uma caixa. Nela há várias fotos, minhas, de momentos, de viagens, de amores, de amigos, filhos, de diferentes paisagens. Junto todas, me olho no espelho de novo e percebo que tudo mudou – só não sei quando.
Volto para a geladeira e revejo as resoluções do outro ano e me parecem as mesmas deste, do outro, do outro, do outro... Nada mudou: amor, dinheiro, saúde, paz, emagrecer, fazer cursos, exercícios, gastar menos, poupar mais....  e ser feliz, ser feliz... sempre as mesmas coisas, ontem, hoje, amanhã.
Feliz? Amanhã? Para quê, se será igual a hoje e ontem?
Olho novamente na janela e vejo a mesma paisagem, a estrada de sempre. Todos os dias o sol nasce e tem essa estrada sinuosa ali bem a minha frente. Mas, hoje algo sim tinha mudado. Havia uma placa, mas não consigo ler o que está escrito. A alta luminosidade, os muitos carros passando me atrapalham a visão e me confundem.
Vou ao quarto da bagunça novamente, mas dessa vez para pegar um binóculo, e encontro também uma arma.
Volto à janela com o binóculo em uma mão e a arma na outra. Olho para eles. Estou cansada. Coloco o binóculo no rosto para ler a placa. Me assusto. Tiro o binóculo dos olhos após ler que a placa dizia: “O caminho dos sonhos”. 

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