terça-feira, 21 de agosto de 2012

Não valho nada

Conto escrito para o mote do Clube da Leitura. TEMA: Encontros e Desencontros.


Não valho nada

Ando pelas ruas. Saí do bar, nem sei quantas taças de champagne tomei. Parecia estar leve, puro engano. Ando pelas ruas, nossas ruas. Tudo me lembra você. Já faz quanto tempo? Por onde andarás? Não sei.... fecho os olhos sinto seu toque, sua respiração, seu beijo e você dentro de mim. Nos amávamos até pingar, até ficar roxa com as marcas das mordidas pelo corpo. Ao som de rock, você me possuía e eu me derretia em seus braços. Preciso ouvir sua voz, preciso te ver, sentir seu cheiro, ser rejeitada pessoalmente por você, nem que seja pela última vez.

Você me deixou no aeroporto. Porto Alegre era o destino. Tínhamos planos comuns de uma vida alegre. Encontrei meu destino profissional e me desencontrei de você. Não sei se algum dia chegamos a nos encontrar de fato, ou se só nos esbarramos por ambientes comuns.

Te esperei em nosso apartamento vazio.  Comprei passagem em seu nome. E sempre no gerúndio do estou indo, nunca me disse que não ia. As pessoas dizem que buscam uma coisa e quando a encontra não sabem o que fazer com ela.

Te ligo, você atende. Ouvir a sua voz é como injetar heroína na veia, que cessa o desespero de uma ausência não escolhida viver. Conversamos, você diz vir ao meu encontro, mas nunca veio, ou virá. As horas passam e continuo a andar embriagada. Você avisa para marcarmos outro dia. Jogo a garrafa, agora de cerveja no chão - de raiva. Continuo a caminhar desesperada para me livrar desse vazio.

Entro em outro bar, olho sem vergonha e invasivamente para um qualquer. Não quero saber seu nome, o que faz, o que pensa sobre política ou sonhos futuros. Quero ser desejada como uma cachorra, como um pedaço de carne, como a mais gostosa do bar. Quero fazer amor barato, sem amanhã, sem telefone, sem planos de casamento, ou informações armazenadas. Quero apenas fechar os olhos e imaginar que esse qualquer poderia ser você.

Ele chega por trás, já vulgarmente deixando as mãos sobre minhas pernas. Levanto ainda mais a saia e deixo suas mãos deslizarem. Acariciando minha virilha, logo percebe que tirei tudo, mas você não veio - já ele chupa os dedos e sente que ainda esta perfumada. Sinto seu cheiro de homem. Cruzo as pernas com seus dedos dentro de mim. Lambe minha orelha dizendo seu nome. Deleto a informação, não me interessa. Aperto seu membro com força. Olho em seus olhos estranhos e sussurro em seu ouvido para sairmos do bar. Ao me levantar mordo e lambo sua nuca salgada.

Entramos no carro. Tiro a calcinha. Ele começa a falar e a me perguntar coisas. Mando calar a boca e me possuir – com força. Ele fica assustado. Mas, esse é o propósito. Coloco a camisinha com a boca. Ainda mais chocado, sorri. Um sorriso doce para um qualquer. Não quero romantismo, quero ser desejada, penetrada, chamada de gostosa, puta, cachorra. Sou uma cachorra, uma vira lata, por ainda querer você.

Ele me possui, me morde, goza dentro de mim. O carro fica embaçado. Deliro de prazer a ponto de chamar a atenção dos transeuntes. Não me importaria hoje ser pega pela polícia. Ele se oferece para me levar em casa.

Sem falar nada, pego uma moeda de um centavo, lhe entrego e saio do carro feliz em passar adiante a sensação de não valer nada para alguém - e entro num taxi.

Confiram também a reportagem da GLOBO NEWS sobre o Clube da Leitura - apareço de azul! :-)

http://globotv.globo.com/globo-news/globo-news-literatura/t/todos-os-videos/v/clube-da-leitura-vira-ponto-de-encontro-de-novos-escritores-em-copacabana/2095764/

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