Manoel de
Barros me apresentou a poesia. Não essa letrada, rimada, floreada, poética.
Manoel de
Barros me apresentou a poesia da alma, da inteligência incomum - para aqueles
que querem aprender administrando o desconforto do sentir e que estão ávidos
para saborear as entrelinhas do senso comum.
A poesia de
Manoel de Barros bate ou não bate. E quando bate, não requer legendas ou
explicações. Se pedir explicações é porque não bateu, e neste caso, Manoel de
Barros não te ensinou nada.
Manoel de
Barros me ensinou a enxergar além dos objetos, transcender, desconstruir. Ele
ensina que só quem sente os objetos, transcende, desconstrói, e assim
transforma o estático em puro movimento tocável com enorme sentido.
Manoel de
Barros me apresentou o comum mais incomum já sentido. Desenha em palavras
sensações padrão e sentimentos humanamente primários, capazes de causar um
espetáculo emocional.
Manoel de
Barros aprendeu a transformar a arte de não fazer nada em obra de arte.
Se tudo que
ele não inventa é falso e se o tempo só anda de ida. Corro atrás para voltar a
ser criança para quem sabe conseguir deixar minha alma evoluir através de sua
poesia.
Para quem
conhece Manoel de Barros sabe do que estou falando. Para quem não conhece, vale
a pena conhecer.
Só 10% é
mentira e 90% é invenção – é disso que estamos falando. O cotidiano nos afoga
em um senso estático, nos deixando viciados a enxergar apenas os objetos e os
fatos comuns.
Que pobreza
de alma, não acham?
O que é
isso? Café da manhã... e isso? Trabalho... aquilo? Filhos... e isso? Dinheiro.
Estático, plano, pobre, pueril. Somos capazes de sentir e enxergar muito mais
que isso, muito além disso, ou do comum.
Meu
consultor literário, é agora tenho um personal consultor literário... enquanto
uns contratam um personal para desenvolver o corpo, contratei um para
desenvolver a alma, e quem sabe um dia deixarei de ser apenas humana
e me transformarei em borboleta.
Ele, meu
consultor literário, me lançou o desafio do “Olho Oculto”. O olho oculto nada
mais é, ou melhor tem a grandeza de ser: olhar além dos objetos, dos
fatos. Como você enxergaria a ida ao trabalho, de um dia comum, de forma
sentida, de forma poética? Hoje, por exemplo: acordei tropeçando na falta de
vontade de sair do mundo dos sonhos.
O olho
oculto é tudo aquilo que a gente não vê, ou não quer enxergar, ou que já entrou
no automático, que esquecemos de lembrar, ou evitamos sentir... falar então,
esquece... afinal, imagens são palavras que nos faltaram.
Por isso,
lanço aqui também este desafio. Quem sabe exercitando um pouco mais a alma,
conseguimos nos transformar em poetas ou passamos a fazer coisas muito mais
úteis, marcantes a partir da inutilidade comum.