domingo, 6 de junho de 2021

Chega de dor

 


Estamos em um momento longo de dor, de dores. Costumo dizer que para a dor passar, precisamos passar por ela, e que só se cresce no caminho da dor. Evitamos a dor, porque ela é dolorosa, mas senti-la em sua essência, além de libertador, também é acolhedor. 

Porém, chega de dor! Chega de revisitar passados, perdas, os “E, se?” e todas as fraquezas que não nos permitimos e sofremos. Chega de viver em loopings mentais com as dores rodopiando em nossas mentes e corações como se fossem bolinhas no sinal. Gatilhos sempre existirão para sacar aquela dor da caixinha e colocá-la sobre a mesa. Temos que dar um basta em passados já vividos, sofridos, digeridos e que teimamos em não superar simplesmente porque em nosso entendimento não veio o depois, aí ele fica lá quicando no corredor de nossas vidas, indo e voltando só porque damos espaço.

Se conseguimos sentir saudades do que não vivemos, imagina do que já vivemos e foi bom? Transformamos a saudade em dor e a dor em um disco arranhado, arranhando nosso emocional toda vez que tocam.

Chega de dor! Precisamos sublimar isso. A dor ela é provocada por estímulos de nossas provocações nervosas que geram a dor física e/ou emocional. A dor sempre vem de uma provocação. E tendo a acreditar que muitas vezes nós mesmos provocamos essas provocações e nos ferimos.

Auto cuidado é importante nesse processo. Não podemos nos isentar e responsabilizar o outro por nossas dores, o mundo, e principalmente a Deus - o colocando no papel vilão de nossa própria história.

Quantas vezes não ficamos presos às histórias antigas, vividas, por serem a última referência? A vida segue, mas sempre revisitamos essas histórias e junto com essa visita, sentimos novamente amores, dores, abandonos, afetos e desafetos. Sentimentos bons e ruins que sempre farão parte do vivido e de nós.

Mas, chega de dor! A cura está no presente. Não se vire para a vida, vire a página... uma, duas, ou quantas vezes precisar para deixar no passado o passado e somente trazer para o presente sua melhor versão. Somos a soma de nossas experiências e dores, mas não podemos nos afogar nessas experiências e dores. Mais uma vez, não se vire para a vida, vire a página e chega de dor. E se precisar de algo, estou aqui. 



O amor tem passado por mim,

Sempre o convido para entrar, mas ele prefere só passar. Mal sabe ele que o dia que entrar será um caso de amor.

Ele flerta comigo o tempo todo, mas prefere só passar por mim.

Te procuro, te desejo, fantasio o tempo todo que você me encontra e fica. Mas é tudo sonho, na realidade, o amor existe, mas ainda não tomou sua decisão de ficar.

Te vejo todos os dias passar, e não adianta forcar, só me resta esperar. 


Voltei a sentir...

 

Voltei a sentir a mim, meu corpo, minha pulsação.
Voltei a sentir meu coração, meu calor, minha dor.
Voltei a sentir o cheiro, meus batimentos, minhas lágrimas salgadas.
Voltei a sentir poesia, música, o barulho e cheiro da chuva.
Voltei a sentir o sorriso, a saudade, o espirro.
Voltei a sentir você, você sobre mim, em mim, perto.
Voltei a sentir o afago, a paz, o chão, o vento.
Voltei a sentir meus pés formigarem, sua respiração, as cócegas.
Voltei a sentir o que estava parado e tudo em mim se movimentou.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Sobre a espera


Perguntei a Alexa: O que é espera?  E ela trouxe onze significados. Foi difícil esperar todas as interessantes explicações. Nem sei por que perguntei isso, talvez porque sempre esperamos algo da vida, do outro, de nós. Só não sabemos esperar essa espera acontecer. Nem sempre o que esperamos depende de nós, ou só de nós. Então, a espera vira um eco que ecoa sem data e hora. Como algo cósmico, dos astros, da escolha de Deus.
Dizem que quem espera sempre alcança... será?

Já esperei tantas coisas que não aconteceram; um muito obrigado, me desculpe, precisa de algo? Ou alguém que nunca chegou. A espera é solitária, e muitas vezes só nossa. Não podemos transferir para o outro o que esperamos. O ato da espera vem de ter esperança, e por isso esperamos no campo da imaginação nossas esperas; que mais nada são desejos que queremos que se realizem: um reconhecimento de alguém importante, a chegada de um filho, um amor, uma promoção, um pedido de casamento, um eu te amo nunca dito, ou aquele inesquecível pôr do sol.

A espera pode ser curta, longa, ou nunca chegada. E nesse banquinho que ficamos, nossa mente hospeda sonhos, ansiedades, medos, saudades, desejos, frustrações, palavras a serem ditas e muitas coisas a serem vividas, realizadas – e por isso esperamos, quase como um ato de fé.

Poderia fazer uma lista, muito maior que onze itens de minhas esperas, ou de minhas esperanças íntimas; são tantas, enormes e tão legítimas, que me fazem acreditar que essa espera um dia irá acabar, e a chegada chegará, para mim, para você e ele também. 

Quem espera sempre alcança, porque na maioria das vezes, quem espera com esperança, levanta e vai construir o recebimento dessa espera, ou simplesmente entende que não faz sentido mais esperar e segue. 

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Efeito Covid

 



Em março do ano passado, não pensávamos, que essa montanha russa que estamos vivendo com a Covid 19, seria tão longa, tão dura e com tantos efeitos emocionais.

Uma doença que democratizou o mundo através do medo. Sentimos o mesmo medo com doses diferentes; e uma vulnerabilidade incontrolável sem classe social ou privilégios. Cada corpo responde, se defende e se entrega de um jeito, que nem os controladores são capazes de controlar. Nesse contágio universal, ficamos literalmente presos e entregues.

E quais os efeitos de tudo isso? Emocionais, físicos e até espirituais.

Já são mais de 15 meses, and beyond, dessa incerteza, sem sabermos o que vem depois. Para os que tinham medo da vulnerabilidade, bem vindos à realidade atual e quem sabe futura. O futuro ficou mais próximo e o presente um real um pouco ou bem amargo. A morte mais frequente e a fé sinônimo de resiliência.

Os que buscavam um propósito, sobreviver virou uma boa escolha e se ainda conseguirem se manter mentalmente saudáveis e empáticos, podem até ganhar prêmio de reconhecimento.

Tudo isso, porque há mais de 15 meses, and beyond, saímos do liberal e entramos no compulsório. O inesperado que inesperadamente acontecia no dia a dia, deu espaço ao conhecido, que agora dá espaço ao cansaço de dias iguais. Estamos em constante exercício de estarmos conosco, com nossas famílias, amigos mais íntimos.  E, distantes, ou muito distantes de pessoas, rotinas, coisas, gestos, experiências e trocas que eram comuns, acessíveis e naturais em nossas vidas. Percebo que não estávamos preparados para tudo isso. Me sinto às vezes em um episódio de Black Mirror, ou em um desses filmes surrealistas. 

Nas minhas observâncias, percebo que muitos tem enorme desconforto com a intimidade. A intimidade requer autoconhecimento e conhecer o outro, e nem sempre queremos nos enxergar e/ou enxergar o outro, estar tanto conosco ou tanto com o outro.

Nos arrancaram o direito de ir e vir e nos colocaram mordaças. Ao menos quem tinha bafo, descobriu que precisava cuidar do estômago ou da higiene bucal. Mas, quem nos tirou tudo isso?  O universo, ou nós mesmos?

Como estamos nos adaptando sem os prazeres mundanos e as doses maravilhosas de vida que anestesiavam as dores? Como ser criativo em cativeiro, sem as trocas?

Segundo Aristóteles, a natureza humana precisa viver em sociedade, que vivendo em sociedade, o homem realiza seu próprio bem. Isso é tão próprio do homem quanto é próprio da semente de pessegueiro tornar-se uma árvore e produzir pêssegos.

O homem é carente e a carência aponta para a incompletude humana. Ele tem sempre necessidade de um outro semelhante e tão imperfeito quanto ele. Ele se associa para alcançar uma vida perfeita e auto-suficiente. Um ser que não sentisse a necessidade de associar-se seria um Deus ou um animal, segundo Aristóteles.

Quando leio esse pensamento de Aristóteles que morreu 322 a.C – na Grécia Antiga. Vejo que hoje, o homem virou Deus, animal e incapaz de viver só e em sociedade. 

Queremos desesperadamente que essa pandemia passe, mas existe um hoje que precisamos viver. Não podemos permitir que essa “nova vida” e atemporalidade - porque não sabemos o que vem depois, desperte o pior de nós. Que a falta de sociedade e coletividade nos transformem em animais, e nos enlouqueça achando que somos deuses. 

As pessoas estão pirando porque precisam olhar para si, para o próximo, para o mundo. Precisam encarar o medo, viver na vulnerabilidade, na superação e na mudança de papel de controlador para controlado. E no meu entendimento só existe um caminho para isso, (tirando terapia e medicamentos):  O amor. Só o amor é capaz de curar o efeito Covid. 

Texto by Ana Corujo