terça-feira, 9 de abril de 2024

Faz tempo que não escrevo aqui, faz tempo que escrevo só para mim e faz tempo que não me leio. Nas minhas releituras, encontrei textos surpreendentes e tão fortes, que nem eu sabia mais que podia transformar força em poesia - e que encontro tudo isso dentro de mim.  Onde nos desencontramos do que demoramos muito a encontrar? A gente vai se endurecendo, o mundo vai nos julgando e quando vemos, perdemos a melhor parte de nós; a doce, leve e a que se importa. 

Aconselho a todos, que nem sei mais se me leem, já que nem eu mais o fazia, a se lerem de vez em quando. Converse hoje com o seu eu do passado. O que mudou? Melhorou, se perdeu, ou está adormecido. Inteligentes são aqueles que sabem aproveitar o melhor de si, deixar ficar o que deve ficar e deixar ir o que não cabe mais. Às vezes a nossa pele fica pequena e como as lagostas, precisamos criar uma nova.

Nessas minhas releituras, encontrei um texto que escrevi em 2013, quando publiquei "A bailarina da loja de tapetes". E nesse texto entendi que não posso me afastar da escrita, de mim, mesmo escrevendo, porque materializar sensações é como sentí-las novamente. E maior beleza não há.


A história do sonho

Acordei, abri a gaveta. Tirei aquele sonho deixado de lado por anos. Peguei-o... ainda tinha formato de nuvem. Não tinha cheiro, forma, mas havia um sentido latente, vivo, apesar de quase empoeirado. Falou comigo, afinal, só dependia de mim, fazê-lo existir. Não foi num passe de mágica, aliás, nenhum passe de mágica aconteceu. Nessa receita de realizar sonhos, não teve mágica, mas magia. O que teve, foi muito trabalho... Tanto trabalho, só para parecer que não se trabalhou - a ponto de parecer, que tudo aconteceu como um passe de mágica. Mágica, ou mágico, realizar sonhos tem um sabor que só quem realiza, consegue entender o medo agradável de sentir. A campainha tocou. E o sonho chegou embrulhado. Não era uma cegonha, mas o motoboy, com você tão bem embrulhado, para não se machucar no caminho. Foi um caminho nem rápido, nem demorado; nem fácil, mas também, nem tão difícil. Foi um caminho do tamanho do tempo e esforço que precisava ter - para poder existir. O tempo exato para não se desistir. E assim, você chegou embrulhado com nome gravado. Nervosismo, emoção, medo, sentimentos não mais engasgados, rasgaram aquele pacote para poder sentir você em minhas mãos suadas. Podia tocar, tinha cheiro, forma, 268 páginas, era a minha cara... tinha vida, eco e todo sentido do mundo, descoberto, registrado... Depois de me sentir tão oca, a ponto de me acostumar a me sentir assim... agora era um enorme conjunto completo de mim. Segurei o meu sonho nas mãos. Me emocionei, me orgulhei, aliviei, respirei, respirei esse novo ar. Nunca havia tocado num sonho, foi como ver a neve. A nuvem se materializou, com nome e sobrenome de A bailarina da loja de tapetes, com preço de prateleira, mas de valor de uma vida inteira vivida, acompanhada da certeza de que nunca mais serei a mesma, pois agora eu sou eu - e vou me lançar.

Toda vez que sentir medo, não acreditar ou sei lá, vou reler esse texto da realizadora de sonhos, que sou eu! Agora vamos para um sonho maior ainda que terá o caminho do tamanho do tempo e esforço que precisa ter, guiado por uma fé transformadora.