quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Eu posso ser um poeta.


Manoel de Barros me apresentou a poesia. Não essa letrada, rimada, floreada, poética.
Manoel de Barros me apresentou a poesia da alma, da inteligência incomum - para aqueles que querem aprender administrando o desconforto do sentir e que estão ávidos para saborear as entrelinhas do senso comum.
A poesia de Manoel de Barros bate ou não bate. E quando bate, não requer legendas ou explicações. Se pedir explicações é porque não bateu, e neste caso, Manoel de Barros não te ensinou nada.
Manoel de Barros me ensinou a enxergar além dos objetos, transcender, desconstruir. Ele ensina que só quem sente os objetos, transcende, desconstrói, e assim transforma o estático em puro movimento tocável com enorme sentido.
Manoel de Barros me apresentou o comum mais incomum já sentido. Desenha em palavras sensações padrão e sentimentos humanamente primários, capazes de causar um espetáculo emocional.
Manoel de Barros aprendeu a transformar a arte de não fazer nada em obra de arte.
Se tudo que ele não inventa é falso e se o tempo só anda de ida. Corro atrás para voltar a ser criança para quem sabe conseguir deixar minha alma evoluir através de sua poesia.

Para quem conhece Manoel de Barros sabe do que estou falando. Para quem não conhece, vale a pena conhecer.

Só 10% é mentira e 90% é invenção – é disso que estamos falando. O cotidiano nos afoga em um senso estático, nos deixando viciados a enxergar apenas os objetos e os fatos comuns.

Que pobreza de alma, não acham?

O que é isso? Café da manhã... e isso? Trabalho... aquilo? Filhos... e isso? Dinheiro. Estático, plano, pobre, pueril. Somos capazes de sentir e enxergar muito mais que isso, muito além disso, ou do comum.

Meu consultor literário, é agora tenho um personal consultor literário... enquanto uns contratam um personal para desenvolver o corpo, contratei um para desenvolver a alma, e  quem sabe um dia deixarei de ser apenas humana e me transformarei em borboleta.

Ele, meu consultor literário, me lançou o desafio do “Olho Oculto”. O olho oculto nada mais é, ou melhor tem a grandeza de ser:  olhar além dos objetos, dos fatos. Como você enxergaria a ida ao trabalho, de um dia comum, de forma sentida, de forma poética? Hoje, por exemplo: acordei tropeçando na falta de vontade de sair do mundo dos sonhos.

O olho oculto é tudo aquilo que a gente não vê, ou não quer enxergar, ou que já entrou no automático, que esquecemos de lembrar, ou evitamos sentir... falar então, esquece... afinal, imagens são palavras que nos faltaram.

Por isso, lanço aqui também este desafio. Quem sabe exercitando um pouco mais a alma, conseguimos nos transformar em poetas ou passamos a fazer coisas muito mais úteis, marcantes a partir da inutilidade comum. 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O que é o que é?


Conto escrito para o Clube da Leitura de 19.02.13 - Tema: Carnaval e suas fantasias.... ficou em 2o lugar :-)


Joana era uma mocinha muito criativa. Sempre que precisavam de ideias originais chamavam Joana.

Neste carnaval, Joana organizou as fantasias de todos e as suas. O sucesso era claro nos blocos que passavam, onde diversos foliões curtiam suas fantasias.

Na terça-feira de Carnaval, Joana tinha uma festa para a nata carioca. A produção seria o ponto alto da festa e as pessoas mais interessantes também. Joana não queria ser mais uma fadinha no meio da multidão.

Pensou, pensou, pensou e pensou e chegou à conclusão que queria uma fantasia, chique e original. Uma que pudesse retratar sua criatividade e elegância, afinal não era uma festa para Evas e homens da caverna, mas sim para a corte.

Tudo que Joana pensava não lhe parecia adequado, até que um dia sentada em sua escrivaninha, Joana teve a ideia para sua fantasia ideal e abriu um sorriso Colgate de orelha a orelha.

Fantasia definida, Joana partiu para a produção. Invadiu seu guarda roupa, selecionou as peças adequadas e o que faltou, Joana, se despencou até o Centro da cidade para comprar a matéria prima que produziria sua obra de arte.

Horas a fio de corta daqui, cola por lá, molda aqui e acaba por lá, a fim de que os detalhes ficassem impecavelmente perfeitos, para Joana. E assim, a fantasia da tão esperada festa ficou pronta. O Carnaval seguiu e a festa chegou.

Joana animada, se arrumou, se purpurinou e saiu linda e morena devidamente adereçada para sua super festa.

Logo no encontro com os amigos a reação foi unânime:

- Ualllllllllllllllllll Joana, você esta linda!!!!!!

Porém, após o unânime comentário vinha a pergunta:

- Mas, sua fantasia é o quê?

Joana não conseguia acreditar que as pessoas não reconheciam sua fantasia - que para ela era mais que óbvia, e resolveu ao invés de falar perguntar o que eles achavam que era.

- Uhmmm Joana, você esta de Paquita? – falou a prima de uma amiga.

- Desde quando Paquita tem roupa preta?? – disse Roberto. Ela esta de soldadinha.

- Soldadinha?? Claro que não, ela esta de Petit Gateux... tá vendo esse treco branco em cima? É um sorvete de creme... – disse Suellen.

- Vocês estão de sacanagem, só podem!! – falou o irmão de Joana. Minha irmã esta de aeromoça anos 50.

- Que isso Felipe - disse Mariana. Ela esta de mulher da bilheteria do cinema anos 50 isso sim, retardado.

Depois de inúmeras tentativas, Joana se irritou e interrompeu o alvoroço dos amigos que riam das mais criativas possibilidades chutadas para a tão especial e chique fantasia.

- Não é possívellllll!! – gritou Joana. Não é nada disso, como vocês não reconheceram minha fantasia?? Só podem ser limitados!! Afiiii.... – terminou fazendo bico.

- Que porra de fantasia é essa então, Joana? – Perguntou Roberto.

- Eu estou de Mont Blanc, cacete!!! Mont Blanc!!!!! Mas, quer saber... peguem a porra dessa BIC aqui e enfiem no cú... – virou as costas e foi embora. 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Meias Palavras


A inteligência me fascina. A inteligência dita em palavras então, me derrete em partículas. Enquanto as menininhas esbanjam os seus decotes para os musculosos de plantão, nada me apaixona e encanta mais que uma resposta bem dada, uma ironia inesperada, uma piada meticulosamente colocada e até nenhuma palavra dita errada na hora certa.

É da natureza da mulher seduzir pelo visual e a do homem pelo verbal - direto. Mas, na geração onde o gato comeu a língua do homem, a poesia e as cartas de amor se foram junto com o romantismo, deixando em seu lugar uma bela maquiagem e um bíceps sem camisa.

As cartas de amor, a poesia, e até as serenatas, deram espaço a linguagem moderna dita, porém não declarada nos e-mails, nos chats e WhatApp. O romance, ou o romancista foi suprimido e esquecido pelo Instagram - onde uma imagem vale mais que mil palavras... será?

Gosto mais daquele jogo de pingue-pongue verbal, do que línguas enroscadas sem idioma, ou identidade. Esqueço um beijo facilmente, mas o sabor de boas palavras, talvez por ser tão raro, pouco esqueço as vírgulas.

Quem sabe lidar com as palavras não fala de fatos, mas sim troca ideias. Quem sabe colocar as palavras não é uma imagem e sim uma marca. E talvez mais uma vez, por isso as palavras me fascinam tanto. Poucas linhas ditas de forma inteligente podem dizer um infinito de coisas.

Ainda sim não consigo compreender como na era da comunicação ficamos sem palavras para entender os fatos. Mas, já que os fatos falam por si, talvez hoje mais inteligente seja aquele que aceita sem falar nada tudo aquilo que não se consegue entender. Porém, como as palavras ainda me fascinam, sigo poetizando sentimentos rasgados para ver se alguém mais inteligente que eu entenda tudo o que ainda não sei dizer. 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Começando a fuuuuulia.


Ei você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí. Se você pensa que cachaça é água, cachaça não é água não. Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é... Allah-lá-ô, ôôôô mas que calor, ôôôô. Se você fosse sincera Ô ô ô ô Aurora. Ó abre alas que eu quero passar. Ô balancê balancê quero dançar com você entra na roda morena pra ver Ô balancê balancê. As águas vão rolar garrafa cheia eu não quero ver sobrar....

É meu caro leitor, mais um Carnaval chegando. Data tão esperada, pensada, comprada, planejada ou reclamada. Para o mal humorado de plantão, ou dos negócios – onde nada acontece antes do carnaval. A festa do povo chegou e é hora de foliar!!

Por que esta época tem tamanha magia? Espírito leve, de alegria, de natureza lúdica. Quantos amores nasceram nos Carnavais (você lembra?) e quantos terminaram antes deles? Quantas histórias em apenas quatro dias marcados por ano? Festa da carne, sentido Cristão?

Outro dia me pediram para escrever sobre isso. O poder do Carnaval nos relacionamentos, ou término deles. O que esta data manifesta em nós para querermos nos libertar tanto? Desde quando estamos presos? Que liberdade corporal gritada é essa que acontece durante esses quatro dias, a ponto de jogarem fora 361 deles por pura perdição? Será que é preciso se perder, ou perder para se encontrar, ou arrepender-se? Longas sólidas histórias que se vão por muitas breves e liquidas - ali encontradas atrás da banca, de uma árvore, ou fantasiadas na próxima esquina.

Nada contra foliar, ao contrário, adoro mais hoje Carnaval do que ontem, talvez porque ontem eu era mais leve (literalmente) que hoje e por isso demandava menos, ou me importava mais.

Porém, o mais legal do Carnaval é esse espírito tradicional, das marchinhas que faz passar os anos, gerações, décadas – através de uma essência que não muda, singular, atemporal e que só se resgata no Carnaval!! Tradicionalismo moderno, criativo e que fantasia a realidade,  não acha? Por isso o Carnaval é fantasiosamente bom.

E para uma boa folia aprecie com moderação, sem celular na mão, mas com muita camisinha na outra!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sonhando com a minha Bailarina rodopiando nas livrarias........ um sonho que se tornará real em breve, muito breve! :-) Ana Feliz

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013


Vazia de você, cheia de mim. Sem saber fui me preenchendo, a ponto de ficar em excesso de mim mesma só para tampar o espaço, vácuo, rombo que você deixou, ou simplesmente abriu por não caber mais. O vazio dói. O eco também. O não pulsar, o não morrer de amor é de matar. Queria te ter aqui, aqui dentro de mim, para quem sabe ser a dois o que já sou só. Ainda não te vejo, ainda não te sinto e as vezes acho que não mais sei ser o que você quer para você e o que eu quero para mim. As crenças se perdem, a esperança estranha também, mas não deixo de regar meu coração que ainda será seu.