segunda-feira, 8 de junho de 2020

Ser e Estar




Estávamos imersos, aqui, ali, no trânsito, na academia, no trabalho, em bares, festas, viagens, aeroportos, no shopping, em parques, cinema, shows, e muitos, muitos lugares bonitos. Estávamos no automático, indo, correndo, ou seguindo o fluxo, para chegar em algum lugar que nem mesmo sabemos - porque a vida vem e muda tudo sem dar datas.

Nossas vidas nas redes sociais estavam cheias de checkins e posts. Imagens bonitas, pausadas, plastificadas em sentimentos interpretados. Nessa correria de estar em uma rotina e num dia-a-dia preenchido de prazeres materiais momentâneos, foi dado espaço para confundimos prazer com felicidade, essência com essencial, ser com estar.

Assim como no português, é muito fácil, confundir na vida Ser e Estar. Estar feliz é diferente de ser feliz. Quem está feliz pode ser triste e quem está triste pode ser feliz. Posso estar em qualquer lugar feliz e ser triste. Posso estar em qualquer lugar triste e ser feliz. Existem vários tipos de “estares”. O estar é momentâneo e passa. Ser é um estado, uma condição.

Esse confinamento, nos tirou de todos os lugares e situações que livremente podíamos estar. Nos tirou a liberdade de estar aqui, ali, para esquecer isso, aquilo, ou preencher qualquer espaço vazio; e nos deixou confinados com todos os nossos sentimentos, ausências e medos no colo. Nos deixou em nossa realidade, sem maquiagem, salto alto e salas VIPs. Estamos em casa, com nossas escolhas de vida, famílias que construímos, ou com nossa solidão. Mas, principalmente, estamos com nós mesmos, sendo e nos sentindo em essência.

Quando foi a última vez que você esteve em essência em algum lugar, sem celular?

Já se passaram quase três meses desse não livre arbítrio, mas temos o poder de escolher o que não desperdiçar dessa experiência e nos tornarmos melhores e maiores – mais criativos e reais. Estávamos em estado de esgotamento do mundo, da vida, de nós; então não tenha medo de estar só com sua essência, se enxergar e sentir seus verdadeiros sentimentos despidos. Não desperdice a oportunidade de reparar; reparar como se relaciona com o amor, bens materiais, profissão, família, você mesmo, a vida e principalmente o mundo. Como você se comporta nele?

O Coronavírus nos colocou de máscaras e a vida está nos dando a oportunidade de sentirmos todos os sentimentos mascarados sem máscaras, aproveite!

2 comentários:

Unknown disse...

Excelente!! Adoro seu jeito de escrever. Toca a gente.... Intencional ou não. Li seu livro ' A bailarina na loja de tapetes". Simplesmente, perfeito. Parabens por ter o dom de tocar as pessoas com as palavras.

Ana Flavia Corujo disse...

Nossa, que lindo. Não tinha visto o seu comentário. Fico feliz de ter lido A bailarina. Em breve lanço Dias de Clarice. Vai gostar. Tentando voltar a escrever!! Andei parada. :-)