Falar é fácil, escutar é
difícil.
Criticar
é fácil, mudar é difícil.
A vida
do outro é fácil, ser você é difícil.
Cada
um tem o seu limbo emocional, sabe onde o calo aperta, mas não como tratá-lo.
Limbo
emocional? Pois é... o limbo emocional são aqueles caquinhos internos, pedaços
quebrados, vazios acumulados ao longo da vida que queremos varrer para algum
lugar, nem que seja só por uma noite.
Nos
tempos antigos, não existia silicone, cirurgias plásticas em cada esquina,
crediário, internet, celulares, redes sociais, carros, e milhares de
facilidades sem compromisso. Existiam pessoas, memória, comprometimento,
investimento, olho no olho, palavras ditas. Antigamente para se conhecer alguém
era preciso ir pessoalmente conhecer esse alguém - se expor, se arriscar, estar
interagindo, no estilo telemarketing como interface única. Hoje a gente se
expõe explicitamente em telas multimídias só para não se expor pessoalmente.
Antigamente
a falta de silicone ou um nariz grande, era compensado com um alto
investimento em si, já que não podiam ser comprados como comida pronta ou
encontrados em prateleiras: vai um nariz ai?
Quando
se é interessante, a gente até esquece o tamanho de um nariz e a falta de mL de peitos. A palavra tinha valor e o compromisso também... E por isso, sem
maiores delongas, a sensação de segurança emocional era maior e sofria-se
menos. Sem maiores delongas novamente, naturalmente o ser humano era mais
interessante, e talvez por isso tínhamos grandes artistas, poetas e gênios que
perdurarão atemporalmente e hoje temos as fotos instantâneas, o funk e
fenômenos pontuais - que já esqueci.
Antigamente
tínhamos o tempo como um amigo, hoje o temos como o pior dos inimigos.
E por
não termos tempo, ou intimidade, o limbo emocional vai aumentando. E, para
tratá-lo de forma prática, instrumentos são criados para servirem de
repositório desses caquinhos que não temos tempo para juntar, mas que queremos
nos livrar para aliviar. E assim, vamos reunindo os vazios de nós por aí no
vício, nas compras, no Tinder, no Lulu, no facebook, nas prateleiras, e em todas
as trincheiras que podemos nos apoiar, como tábua de salvação.
Depois
dessa enorme volta na roda gigante, levo meu tapete com os caquinhos escondidos
debaixo dele à terapia, afinal mesmo não estando fácil para ninguém, para
todo mal há cura, já dizia o Lulu.
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