A pandemia chegou e colocou o mundo em uma condição de igualdade de forma 100% desconfortável. A angústia que sinto hoje, 7.7 bilhões de pessoas sentem em algum formato. Jeito triste de nivelar a democracia mundial. Estamos todos na mesma página, na mesma tempestade, com diferentes barcos, botes, líderes e sentires.
Mesmo na tempestade, decidimos ser Super Heróis. Nos isolamos e nos privamos para um bem maior e nos desafiamos a salvar o mundo e a economia. Sem pensar, peguei minha capa de Mulher Maravilha, e me adaptei nesse novo cenário, percebendo que a vida não para, mesmo parada. Cada vez mais reparo que a urgência não é relativa, é atemporal. O mundo parou pela nossa saúde e estamos servindo ao mundo perdendo nossa saúde. Como Super Heróis, achamos que poeticamente podíamos nos confinar, e ainda nos tornar os profissionais mais inovadores do ano, capaz de trabalhar e produzir no mínimo 12 horas por dia. Ser os pais, marido, esposa e filho do ano, Chef de cozinha, Sr. Limpeza, ficar saudável, fitness e belo, e ainda propagar a fé, otimismo, caridade e amor – plenos e sem qualquer impacto emocional. Se alguém disser que conseguiu isso, desconheço.
Nosso emocional sente de forma diferente que nosso entendimento racional, e sofre. Nosso emocional nos pede para ir mais devagar, diz que nem tudo é para agora e que se tudo é para agora, o agora fica imperceptível, mas preferimos não escutar e pisamos no acelerador, para ver se chegamos mais rápido no final.
Para os que puderam transpor sua rotina de trabalho para 100% remoto, como eu, percebo que minha agenda deixou de ser minha e passou a ser de todos, fui aprisionada em um calendário de horas online que alocam sem pedir licença, afinal estamos todos disponíveis. Estamos confinados, mas com vidas descabeladamente expostas, tudo devidamente agendado pela tecnologia, inclusive os Happy Hours – parte boa. Nas horas que te deixaram vagas, lavamos louça, roupa, uma ou mais privadas, alimentamos os filhos e estudamos com eles, passeamos com o cachorro e vamos ao mercado- como se tivéssemos indo para a guerra, para na volta higienizar tudo depois. Que recompensa glamorosa!
Percebi que viver essa vida em Pandemia é igual a correr uma maratona sem nunca ter corrido; se eu sair acelerada ao máximo no início, vou pifar no meio do caminho e não vou chegar até ao final, ileso. É preciso calibrar o ritmo quilometro à quilômetro; se cansar, anda, se não aguentar para, respira, toma um café ou admira a borboleta. A minha agenda é minha, a urgência é do outro e o problema é seu. Mas, sim, difícil dizer não e mais difícil ainda sair do automático. Separe o que precisa fazer agora, o que pode fazer depois e o que se resolve sozinho. Muita coisa se resolve, nós que achamos que precisamos resolver tudo.
Estou percebendo, ainda no gerúndio que essa adaptação é uma descoberta e que talvez seja até o final com interessantes altos e baixos, porque é um período de sentir, e um dia sinto assim e outro assado – e ok!
Não deposite a felicidade no futuro, senão você vai cultivar a sofrência no hoje e a sofrência adoece. Experimente essa vulnerabilidade exposta em confinamento, pois a criatividade é fruto da vulnerabilidade. Cultive a esperança, ela sim, salva. E com esperança usando minha capa de Mulher Maraviha, espero tudo isso passar.
Um comentário:
Muito bom texto!! Vale refletir!! ����
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