segunda-feira, 23 de março de 2020

A que preço?



O mundo precisava parar, ou algo precisava parar o homem. Achávamos que éramos os donos do mundo, aí descobrimos que mundo consegue nos parar, para pararmos de destruir o mundo, a nós e aos outros. Mas, a que preço? 

Uma pandemia para matar a arrogância, para nos fazer sair de nossas telas e bolhas, para enxergar o outro e algo maior. Para nos lembrar do coletivo, de onde viemos, que só existe sobrevivência na coletividade e que dinheiro não é tudo. O mundo está doente e por isso o Coronavírus se propaga muito rapidamente, porque somos um grupo de risco: estamos doentes de individualismo, de ansiedade, de ambição, de egoísmo, de cegueira, de baixa autoestima, mas principalmente de falta de amor.

Infelizmente essa pandemia está mostrando que só aprendemos no caminho da dor, e apesar da tristeza em ver essa crise, efeito “3o Guerra Mundial”, devido ao impacto em mortes, massacre econômico e necessidade de reconstrução, estou esperançosa com possíveis mudanças necessárias que nós seres humanos precisamos ter, e em todos os níveis socioeconômicos e políticos.

Pode ser que eu seja uma pessoa bem brasileira - a que sempre acredita; porém, entendo que o confinamento mostra muito sobre nossa capacidade de sacrifício pelo próximo esquecida, o quanto conseguimos, ou não, ficar em paz com nós mesmos e nossa capacidade de doação e reinvenção. Estou vendo pais que não sabem o que fazer e como fazer com seus filhos em casa, porque nunca vivenciaram essa experiência. Vejo amigos entrarem em desespero porque não podem ir mais à bares e festa, sair com seus “contatinhos” ou viajarem por aí.

Acho que boa parte não entendeu que não se trata de “si”, mas sim de “nós”. Que coletividade é o extremo oposto de individualidade, e que o objetivo do grupo é maior que os objetivos pessoais. Acho que boa parte não entendeu o estrago econômico que vamos passar e que muitos ficarão sem negócios e empregos.

Descobrimos que é caro, doloroso, triste e difícil entrar no estado de consciência, porém ainda vejo muitos no estado de alienação. Alienar-se sempre foi mais fácil que encarar o que quer que seja de frente.

Transformando dor em sublimação, podemos tirar coisas boas disso tudo. Aprender é sempre positivo. O confinamento nos permite sentir a criatividade e a compaixão pelo próximo. Podemos usar a tecnologia 100% para o bem e para compartilhar o melhor de nós e não o melhor do que temos ou vivemos; como um meio de multiplicação de conhecimento, doação, colaboração, música, informação, troca, conforto, risadas e paz. É bonito de se ver os incansáveis médicos, autoridades e cidadãos criando iniciativas de apoio à sociedade, em especial aos idosos. Os artistas levando entretenimento de suas casas, para nossas casas, assim como os mestres e educadores aos jovens e crianças. O comércio que se retirou, mesmo não tendo se preparado para se retirar – e está pagando um preço alto por nós.

Somos todos iguais e igualmente vulneráveis. Nesse período temos a chance de sermos íntimos de nós mesmos. Se nós não conseguimos ficar em paz por uns dias com nossa companhia, como podemos cobrar do outro que consiga? O confinamento nos permite a enxergar nossos filhos, marido, esposa. A ter uma vida em família, um cuidando do outro. A nos preocupar com pais e avós - muitas vezes esquecidos pela rotina e prazeres para esquecer a rotina. O confinamento nos permite a desenvolver a administração da maior doença da sociedade, a ansiedade. E a interagir com medos e vulnerabilidades.

Eu não estava preparada, você e ele também não estavam. Mas a vida não pede licença e na maioria das vezes não vamos estar preparados para os acontecimentos, pois não sabemos o que está por vir e essa é a mágica da vida. O mundo nos parou, e não será mais o mesmo.  Já nós, tenho certeza que no mínimo seremos empaticamente melhores e isso já é alguma coisa. #FICAEMCASA.

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