Ao conversar com homens e mulheres vejo que existe um esgotamento emocional em relação aos encontros afetivos, principalmente nos aplicativos de relacionamentos. A sensação de rodar e rodar e estar sempre no mesmo lugar é comum e diria global.
As pessoas estão cada vez mais esgotadas dessa busca, não digo nem mais pela alma gêmea, mas por encontros saudáveis, reais e com alguma evolução.
Quando deixamos de nos interessar e sermos interessantes ao olhar do outro?
Vejo um desencontro generalizado, mesmo havendo uma genuína vontade de encontrar.
Será que o amor se perdeu, levando embora o romance e os romances passaram a ser com a própria autoestima?
Nem vou dizer: calma, porque já passou a fase de se desesperar por isso, fica só o cansaço da tentativa e erro para aqueles que ainda não desistiram de tentar.
Como o timing dos aplicativos é ainda mais rápido que os encontros tradicionais, se não falado no dia seguinte ao encontro, o ciclo dos matchs: busca, conexão, interesse e encontro, volta ao início: a busca - ou acelera outra conexão que estava esperando na fila. Aí ficamos que nem ratos de laboratório rodando nesse ciclo. O rato homem achando as mulheres interesseiras e desesperadas e a rata mulher achando que os homens só querem sexo e nenhuma conexão afetiva.
Acho isso tão demodê, mas ainda tão atual.
A generalização leva também a esse esgotamento emocional. E podemos perceber isso através de novas modalidades “paqueras” que estão surgindo. Aqui na Europa, uma rede de supermercado está muito popular por em um determinado horário solteiros circularem fazendo as suas compras em corredores específicos com um abacaxi de ponta cabeça. O corredor define o tipo de relacionamento ou abordagem que pode ser feita. Achei de tamanha inteligência, porque hoje as modalidades de assédio assassinaram as paqueras tão deliciosamente espontâneas. Sou da época que se paquerava no trânsito, no metrô, na fila do mercado. Primeiro veio o insulfilme, depois a censura, depois o celular fazendo com que cada um viva em seu mundo digitalmente paralelo.
A necessidade de conhecer gente, principalmente para os 40+ está tão latente que aplicativos que organizam jantares com desconhecidos, ou que criam grupos por interesses, crescem mundialmente e proporcionam pessoas conhecerem pessoas diversas para fins diversos: amizades, networking, troca de ideias, relacionamentos afetivos, sem a pressão e desgaste emocional que os aplicativos de relacionamentos geram - de atender a expectativa do outro.
Nessas minhas andanças e falanças, percebi que apesar de homens, mulheres e os gays quererem a mesma coisa: encontrar um parceiro de vida e construir uma relação de amor. A indisponibilidade emocional para abrir espaço para alguém entrar juntamente com a ausência de vontade de aceitar as incompletudes do outro, reforçam a normalização da solitude.
O acúmulo de desencontros está levando as pessoas cada vez mais trabalhar a solitude, o amor-próprio, e a autoestima. Esse excesso de “eu independente, forte, autossuficiente” também gera um distanciamento cognitivo do que nos conecta ao outro. E assim vamos fechando a portinha do coração, ao ponto de nos acostumarmos com a sala preenchida somente conosco, em paz ao som do silêncio, ou ouvindo a playlist da nossa história.
Para os corações solitários que ainda querem bater com a batida de alguém cafonamente juntinho apesar do descompasso da vida em tempos modernos. Acredito que o caminho está na desconstrução da paixão e na observação das possibilidades de amor. E para isso é necessário abrir espaço e ter paciência na dilatação das histórias, no olhar mais empático e menos crítico, inclusive com nós mesmos.
A paixão não se transforma em amor, ela é egoísta e uma grande falácia, ainda mais na maturidade. Na paixão você se melhora para uma única pessoa, no amor você melhora para todos.
Segundo Carpinejar: “Paixão divide a loucura, amor divide a normalidade”. E você busca a felicidade na loucura ou na normalidade?
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