terça-feira, 28 de outubro de 2014

Euleição



Depois do facebook o voto deixou de ser secreto. Depois do facebook, o ditado de que não se discute: política, religião e futebol, deixou de existir. Porém, depois dessa eleição, muitos amigos de facebook deixaram de existir também. Em muitos casos, ainda bem, né? Afinal, quem realmente tem mais de mil amigos na prática, dado que na prática não encontramos ninguém?

Acumulamos tantas coisas desnecessárias, inclusive a opinião alheia, não é mesmo?

Não quero cair na mesmice já comentada lá mesmo no facebook sobre as opiniões políticas dessa eleição. Todos já vimos a sua, a minha, a dele e até dos perfis falsos com informações duvidosas. No fundo, no fundo, tanto a minha quanto a opinião do outro não vale de absolutamente nada, porque afinal de contas, o que conta é o que vale para você.

Se até o voto é egoísta, já que é secreto, vamos falar de nós?

A parte mais secreta de nossas vidas hoje é a senha do celular que revela todas as verdades sobre nós mesmos.

Na era do selfie vamos falar de nós? Que nós?

Sim, o nós comum, o que é igual para todos esses nós iguais a nós, que cabem em nossas selfies.

Povo? O povo também é egoísta igual a nós, a ponto de ter mais filhos para se autobeneficiar.

Somos todos a visão política da parte que a gente enxerga, que a gente entende, que a gente vê, toca e sente, alocado no grupo produtivo, ou não, que vai ajudar a nos beneficiar, mesmo que inconscientemente. Afinal a nossa vida é só nossa, assim como a nossa dor, com ou sem meritocracia. Não é o outro que vive a nossa vida ou você que vive a dele. E mesmo que a sua parte seja a 48,36% de mudança, ou a 51,64% do mesmo, ainda sim, é a sua parte capaz de entender empaticamente o seu eu para você mesmo do que está ou não bom.

Nascemos sozinhos, morremos sozinhos, vivemos cada vez mais sozinhos num grande aprendizado de autoconhecimento e sobrevivência. Passamos 24h com nós mesmos e não nos entendemos, vamos querer entender o outro?

Porém, ao mesmo tempo que somos incapazes de conhecer o vizinho, somos um povo capaz de ajudar um desconhecido, salvar uma vida, ir as ruas manifestar, gritar quando vê uma injustiça, amar sem qualquer razão, mas principalmente ainda somos o povo que se emociona ao cantar o hino nacional.

Sinceramente, espero que dentro desse enorme paradoxo de nós mesmos, ainda exista espaço para a esperança no outro e a ação para não passividade em lutar pelo que a gente acredita.


Obs: pelo sim pelo não, comecei a rezar também, fé nunca é demais. Que o Santo Sírio Libanês não me atrapalhe dessa vez.

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