terça-feira, 18 de junho de 2024

As pedras são portuguesas e a vista é linda.

 

Antes tudo era estranho, as ruas, as pessoas, o cheiro, a humidade. Me sentia estranha. Será que tomei a decisão certa? A estação de trem, de metrô, cenários tão comuns e tão incomuns para mim. Tudo era novo, até escolher direita e esquerda não parecia tão simples. Mas a vista, a sensação de liberdade compensava qualquer insegurança e dúvida quanto ao estável e certo deixado.

No caminho, as pedras portuguesas me guiavam, assim como me faziam escorregar, aí entendi que precisava usar o calçado certo para melhor seguir na caminhada. Também não estava acostumada com as ladeiras. As ladeiras sempre deixam mais difícil chegar ao topo, mas as dificuldades que nos possibilitam chegar até lá, ou não. 

Aos poucos, mas bem rapidamente, tudo foi se tornando conhecido e mais colorido, o medo deu espaço à intimidade e conforto. As pessoas não eram mais estranhas, mas sim amigas, acolhedoras. O estranho muitas vezes nos paralisa, mas tem horas na vida que sabemos que temos que transbordar, o quê? Não sei.  Só sei que igual não mais serei. E foi isso que vim buscar, uma nova eu, melhor, mais inteira, mais madura, mais corajosa e cheia de vida. Abraçar o inesperado sempre foi um medo, receber também, e hoje não mais os tenho.

Nem sempre o que serve para mim, serve para o outro, mas o que importa é o que te importa. Por anos fiquei tentando caber nas minhas e nas expectativas dos outros. No planejado, no idealizado principalmente. E isso até me levou a muitos lugares e a muitas frustações, mas acho também que faz parte, assim como fazer planos e mudar todos. O importante é a evolução. Faz um pouquinho, erra, aprende, segue, cria uma opinião, muda, depois muda novamente cheio de certezas, até entender que qualquer certeza nem sempre é certa. O que existe é o que é certo, ou o que melhor nos cabe em cada momento. E foi isso que entendi. 

Essa experiência tem sido incrível. Lindo poder pegar a sua vida, olhar para ela e decidir que o seu único compromisso é com você mesmo. Que você é dono de si e que pode fazer somente o que quiser. Lógico que não controlamos tudo e seres maduros sabem sobre responsabilidades e prudência. Quando criança sempre quis ter superpoderes; hoje tenho, e sei disso. Mas, esse superpoder tem que saber a hora de utilizá-lo e se pode utilizá-lo. Felizmente, posso me proporcionar isso. O que me faz olhar para trás e sorrir com cada pedra, cada não que me disseram, cada não que me disse, cada piano que empurrei, cada um que não quis ficar, cada sapo que engoli, cada noite que não dormi, cada escolha que não queria fazer e fiz, cada hora de terapia, cada desafio que assumi - que me trouxe até aqui, com frutos emocionais e financeiros que me proporcionam viver o momento mais pleno e feliz da minha vida. Nunca havia entendido a liberdade tão inteira. A liberdade não é uma condição, é um sentimento. O que me faz entender e comprovar que apesar de não ter sido o que planejei lá no passado para mim, é o melhor plano que a vida pôde me dar e não há espaço que caiba maior gratidão. Sem saber, eu mesma criei isso e sem saber sigo, sem saber o que virá. 


sábado, 15 de junho de 2024

Às vezes são portas, outras são janelas






O ditado popular fala: quando Deus fecha uma porta, abre uma janela. 

Deus sempre vai querer o melhor para nós, mesmo que ele feche uma porta na nossa cara e nem sempre a janela aberta vem assim no mesmo momento. Mas quando confiamos que ele quer o nosso melhor, a nossa relação com a aceitação dos fatos vem acompanhada com a esperança e um aprendizado que também não necessariamente temos no momento presente. 

Falando em momento presente, pouco vivemos o momento presente, normalmente estamos relembrando o passado ou querendo o futuro. 

O presente a própria palavra já diz, é um presente. Um presente de Deus. E cabe a nós ter a inteligência em vivenciá-lo em tempo real, mas teimamos em estar no celular. 

Muitas vezes estar no celular é bem mais divertido mesmo, principalmente por causa dos memes. 

Muitos ou poucos sabem da minha relação com a fé. A fé não é algo que racionalmente escolhemos. Talvez a intenção sim. Mas a fé é algo que vem de dentro de uma crença genuína, que existe algo maior, mais forte que a nossa própria força. Os galhos não dão folhas e frutos sem o tronco. 

A minha vida mudou quando me encontrei com a fé. Acho que na verdade me encontrei comigo mesma através da fé. E foi um belo de um encontro.

Primeiro comecei fazendo as pazes com o tempo e percebi que tinha todo tempo do mundo. Depois passei a ser mais legal comigo, me amar mais, fazer mais exercícios. Amar meu corpo e minha alma. Se você juntar a endorfina e a fé, os efeitos podem ser melhores que muita lipo e botox. 

Mas voltando. Sim, sou esse vai e volta de pensamentos e assuntos. 

Foi um encontro bonito, de almas. Ficar mais próximo de Deus foi como passear em um jardim e escutar a sua voz; como se ele pudesse tocar e acalmar o meu coração através de sinais, às vezes bobos, mas me abastecia de paciência e paz. Tô longe de ter virado Buda, mas passei a ficar bem menos possuída com as coisas. 

Fé não se discute, assim como time de futebol. Cada um pode ter a sua, cada um deve encontrar a sua e não querer evangelizar ninguém, somente inspirar que cada um encontre a sua própria, para melhor lidar com o presente, com as aceitações. O ponto de partida é a gratidão e ela está no presente. Gratidão pelo dia, pelo que se tem, pelas pessoas. A gente só muda através do amor, e nosso eu de amanhã não existe sem o nosso eu de hoje, então o presente é o processo. O medo é o processo. Ele caminha com a gente e tudo bem. 

Quando deixamos de acreditar em nós? Quando passamos a olhar só para as portas fechadas, sem perceber as janelas? 

Quando a nossa perspectiva muda, tudo muda, quando temos amor em nós, por nós, tudo muda. Quando nos conectamos com o sagrado, com a fé, tudo muda, e somos eternos mutantes, essa é a beleza da vida, da evolução. 

A felicidade está na trivialidade do dia a dia. Se algo não me deixa feliz, ou não está bem, é preciso fazer algo para que fique, e não precisa ser sozinho. A força maior vai me acolher, segurar a minha mão. A vida sempre será aquilo que te pertence e aparece no seu caminho, mesmo que você não queira. Tudo que acontece tem um sentido, mesmo que você não veja sentido nenhum, uma hora talvez você entenda. 

E é por isso que agradeço a Deus por todas as portas e janelas. Através delas posso atravessar, me atravessar, parar, ficar, enxergar, seguir ou somente apreciar a vista. Amém.

sexta-feira, 14 de junho de 2024

A moça do bar

 



Quando nós moças devemos tomar a decisão de sair sozinhas para um bar? 

Não tem regras, até porque o primeiro julgamento é o seu. O que vão falar se me verem sozinha lá? Este é sempre um dos pensamentos, mas se você tem mais de 40 anos, essa preocupação deveria já ter caído de regra.

A melhor parte de sair sozinha é observar, ouvir as conversas, sentir. Dar atenção ao que nunca damos quando saímos em grupo. O externo toma forma, sotaque, múltiplos sons, cheiro. A gente invade a vida dos outros. E tem vezes que é uma delícia invadir e ser invadida. 

Estou escrevendo esse texto em um bar, olhando para uma mulher que veste um conjunto listrado mais listrado que seus óculos amarelos. O cheiro agora é maconha, mas antes era do queijo serra da estrela. O som? Um jazz meio R&B, podia passar o dia ouvindo isso. A melhor dica que dou é, sente-se no bar, ou balcão e observe. 

Sair sozinha na minha visão de iniciante é estar no poder. Me sinto em um pedestal a observar o que nunca observaria se estivesse com outros, ou a dois. Vejo os olhares: quem é essa moça do bar? De onde ela vem? O que está fazendo aqui sozinha? 

A frase, o que está fazendo aqui sozinha se te agride ou te faz sentir pena de você, lhe digo: mude a forma de enxergar, se enxergar. A mulher sozinha está no comando, no pedestal que você mesma colocou, então para quebrar esse poder todo, sorria. Um sorriso de canto para manter o mistério. Observe e olhe para o nada, porque o objetivo é deixar fluir. E flui. Agora o papo aqui do lado é sobre ménage. Não escutaria um papo assim se não estivesse ouvindo. Já o casal do outro lado, encontro de aplicativo, fato! Agora o papo aqui do primeiro lado apimentou; a mulher tirou uma selfie e falou: fazer é nojento, mas vc faz pelo parceiro e pelo prazer que ele sente, mas que no caso dele, ele nem curtiu. Achou a mulher robótica. Expectativa sempre é uma merda até em uma ménage. Mas o mercado fechou e a moça do ménage não vai poder fazer brigadeiro de coco para filha. Super a entendi, porque também mudo de assunto como mudo de conversa no Whapp. 

Mas, voltando para o sair sozinha, o inusitado pode te surpreender. E o inusitado tem a visão que você da para ele: ele pode ser agnóstico, mais para o bem, ou mais para o terrível. Tudo vai depender da sua relação com o controle. 

Normalmente quem está no controle o que mais quer é descontrolar e quando perde o controle se descontrola. Vai entender.

Não devemos dar tanto peso às coisas que não tem peso. Sou mestre em não fazer isso. Sair sozinha é apenas sair. Somos adultas e sabemos nos cuidar. Então não tem o que se julgar, só desfrutar, pois o inesperado do descobrir é uma delícia. Então divirta-se, pois ninguém está vendo. Tim Tim!