Às vezes preciso sair da realidade
para escrever sobre a realidade. A realidade tem um sabor que a imaginação não
sabe.
Viver são fatias do imaginado e é
proporcionalmente igual à decepção. O imaginado não existiria se igual
fosse ao real. Tudo que é igual não se diferencia. E por isso a realidade tem
um sabor que a imaginação não sabe.
Talvez seja por isso também que
preciso sair da realidade para percebê-la. Às vezes brinco de brincar no mundo
do “se”, “se” eu tivesse escolhido outra profissão, “se” eu não tivesse me
mudado, “se” meu pai estivesse vivo, ou “se” eu tivesse vivido alguma história
que não vivi.
O “se” nos serve para enxergar o “é”.
“É” essa profissão que tenho, “é” essa a cidade que vivo, “é” essa lembrança
que tenho e “é” essa história que vivo. “É” essa história que vivo, “é” essa
história que vivo. Ecoar muitas vezes é importante para enxergar a nossa
realidade. Boa ou ruim “é” esse o sabor.
Sabor que teimamos em achar amargo
ou doce demais. Pouco ou muito - os excessos escassos de uma realidade.
Foi gostoso reparar o quão
saborosa é a realidade.
Reparar no sentido de notar,
observar ou conseguir perceber; não no jeito transitivo direto de restaurar,
por em funcionamento, recondicionar. Se bem que às vezes precisamos restaurar
certas coisas para repará-las.
Quando achei que distante estava
do imaginado, reparei que a realidade me estapeava com a cor branca da
segurança - somada ao colorido da felicidade do dia-a-dia.
O hoje é colorível e reparar é
cuidar.
O “se” será sempre um “se” quando
não tornado em “é”. E o “é” não pode ser pisoteado e massacrado pelos possíveis
“ses” que na maioria são utópicos.
Quando descobrimos o tempero certo
da realidade, entendemos que o sabor dela é inimaginável.
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