Cheguei em casa, estava tudo diferente, mas me adaptei. No início foi
estranho, era novo, mas me adaptei. Me tiraram tudo, o chão, a segurança, os
sapatos e você, mas me adaptei. Deixei de andar, pular, correr, mas me adaptei.
Ganhei casas, palácios, carros e mulheres, e me adaptei. Perdi filho, emprego,
casamento, a honra, o saco, mas me adaptei. Me adaptei.
O ser humano é assim, adaptável.
Talvez essa capacidade de adaptação seja a consequência da vida ser tão
imprevisível e sermos obrigados a viver, muitas vezes, uma vida que não
escolhemos viver.
Nos adaptamos com as coisas boas,
ruins, com o defeito alheio e até com a ausência. Nos acostumamos com as nossas
falhas, deficiências, tolerâncias e intolerâncias. Simples, ou não, assim.
Às vezes me pergunto se certos
acontecimentos na vida são capazes de nos mudar para sempre, ou se com o tempo,
devido a nossa enorme capacidade de adaptação, voltamos a ser como antes.
Uma perda, a superação de uma doença,
o renascer de um acidente, uma nova condição, ou qualquer que seja o motivo
pelo qual escrevo este texto, são capazes de nos transformar para um
significado a mais, ou apenas nos modificam por um tempo? Tempo este que nos tende a voltar para o eixo de nosso pêndulo.
Eixo de nosso pêndulo?
Sim, nossa essência é como um
pêndulo. Se sou uma pessoa intolerante,
por exemplo, com algum esforço e dedicação, posso empurrar esse pêndulo para um
nível mais tolerante. Da mesma forma que posso leva-lo para o lado mais
intolerante. Porém, este mesmo pêndulo, tende naturalmente voltar para o seu eixo
original, nossa essência.
Pois é, do jeito adaptável que somos,
entendo que só quando há transformação, de dentro para fora, é que nos
adaptamos com o melhor de nós.
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