quarta-feira, 18 de julho de 2012

João e Maria do século XXI



João e Maria brincavam no Facebook.
João convidou Maria para sair do computador e brincar na floresta.
Maria aceitou, mas levou seu iphone super conectado – e com GPS.
Ao contrário da história infantil, onde os irmãos João e Maria ao brincarem na floresta, se perdem e encontram uma casa de doces.
Nesta história, João não era irmão de Maria. Nas famílias, ou melhor, nas histórias de hoje, as crianças são filhas únicas.
João, também não queria um pé de feijão, mas sim viver um amor com Maria, de forma natural e saudável.
João queria viver um amor orgânico.
Mas, o que seria um amor orgânico?
Explica, João:
“Aquele criado sem agrotóxicos modernos, com um cultivo do dia a dia sem a pressa da tecnologia, onde o carinho é cultuado nos gestos mais simples e não numa tela de touch. De momentos únicos, com o  sorriso tirado de um elogio e não de uma nova maneira de fazer um download rápido. Que se fertiliza de conquistas diárias, com trocas, com declarações às vezes em um olhar, em um toque,  desses que não se encontram em prateleiras -  e que não possuem bluetooth ativado. Aquele cultivado com água, vento, sol, chuva, frio e não com a proteção de um cercado, e nele há pragas e as pragas são resistentes pela persistência do amor. Que gera um relacionamento que não admite aditivo nem conservantes e em hipótese alguma aceita variedade transgênica ou de parceiros”.
Mas, apesar de sentimentos arrancados com raízes de um coração e toda acessibilidade a Maria.
João, nunca conseguiu falar com palavras o que Maria nem sabe se um dia gostaria de ouvir.
E assim, a História de João e Maria seguiu compartilhada nas redes sociais de doces, cheia de cores, sabores, amigos, acolhimento... todos curtindo um amor tântricamente moderno de inbox solitariamente mal assombrado.

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