terça-feira, 1 de outubro de 2024

Esgotamento emocional

 

Ao conversar com homens e mulheres vejo que existe um esgotamento emocional em relação aos encontros afetivos, principalmente nos aplicativos de relacionamentos. A sensação de rodar e rodar e estar sempre no mesmo lugar é comum e diria global. 

As pessoas estão cada vez mais esgotadas dessa busca, não digo nem mais pela alma gêmea, mas por encontros saudáveis, reais e com alguma evolução. 

Quando deixamos de nos interessar e sermos interessantes ao olhar do outro?

Vejo um desencontro generalizado, mesmo havendo uma genuína vontade de encontrar.

Será que o amor se perdeu, levando embora o romance e os romances passaram a ser com a própria autoestima? 

Nem vou dizer: calma, porque já passou a fase de se desesperar por isso, fica só o cansaço da tentativa e erro para aqueles que ainda não desistiram de tentar. 

Como o timing dos aplicativos é ainda mais rápido que os encontros tradicionais, se não falado no dia seguinte ao encontro, o ciclo dos matchs: busca, conexão, interesse e encontro, volta ao início: a busca - ou acelera outra conexão que estava esperando na fila. Aí ficamos que nem ratos de laboratório rodando nesse ciclo. O rato homem achando as mulheres interesseiras e desesperadas e a rata mulher achando que os homens só querem sexo e nenhuma conexão afetiva. 

Acho isso tão demodê, mas ainda tão atual.

A generalização leva também a esse esgotamento emocional. E podemos perceber isso através de novas modalidades “paqueras” que estão surgindo. Aqui na Europa, uma rede de supermercado está muito popular por em um determinado horário solteiros circularem fazendo as suas compras em corredores específicos com um abacaxi de ponta cabeça. O corredor define o tipo de relacionamento ou abordagem que pode ser feita. Achei de tamanha inteligência, porque hoje as modalidades de assédio assassinaram as paqueras tão deliciosamente espontâneas. Sou da época que se paquerava no trânsito, no metrô, na fila do mercado. Primeiro veio o insulfilme, depois a censura, depois o celular fazendo com que cada um viva em seu mundo digitalmente paralelo.

A necessidade de conhecer gente, principalmente para os 40+ está tão latente que aplicativos que organizam jantares com desconhecidos, ou que criam grupos por interesses, crescem mundialmente e proporcionam pessoas conhecerem pessoas diversas para fins diversos: amizades, networking, troca de ideias, relacionamentos afetivos, sem a pressão e desgaste emocional que os aplicativos de relacionamentos geram - de atender a expectativa do outro. 

Nessas minhas andanças e falanças, percebi que apesar de homens, mulheres e os gays quererem a mesma coisa: encontrar um parceiro de vida e construir uma relação de amor. A indisponibilidade emocional para abrir espaço para alguém entrar juntamente com a ausência de vontade de aceitar as incompletudes do outro, reforçam a normalização da solitude. 

O acúmulo de desencontros está levando as pessoas cada vez mais trabalhar a solitude, o amor-próprio, e a autoestima. Esse excesso de “eu independente, forte, autossuficiente” também gera um distanciamento cognitivo do que nos conecta ao outro. E assim vamos fechando a portinha do coração, ao ponto de nos acostumarmos com a sala preenchida somente conosco, em paz ao som do silêncio, ou ouvindo a playlist da nossa história. 

Para os corações solitários que ainda querem bater com a batida de alguém cafonamente juntinho apesar do descompasso da vida em tempos modernos. Acredito que o caminho está na desconstrução da paixão e na observação das possibilidades de amor. E para isso é necessário abrir espaço e ter paciência na dilatação das histórias, no olhar mais empático e menos crítico, inclusive com nós mesmos. 

A paixão não se transforma em amor, ela é egoísta e uma grande falácia, ainda mais na maturidade. Na paixão você se melhora para uma única pessoa, no amor você melhora para todos. 

Segundo Carpinejar: “Paixão divide a loucura, amor divide a normalidade”.  E você busca a felicidade na loucura ou na normalidade?

terça-feira, 18 de junho de 2024

As pedras são portuguesas e a vista é linda.

 

Antes tudo era estranho, as ruas, as pessoas, o cheiro, a humidade. Me sentia estranha. Será que tomei a decisão certa? A estação de trem, de metrô, cenários tão comuns e tão incomuns para mim. Tudo era novo, até escolher direita e esquerda não parecia tão simples. Mas a vista, a sensação de liberdade compensava qualquer insegurança e dúvida quanto ao estável e certo deixado.

No caminho, as pedras portuguesas me guiavam, assim como me faziam escorregar, aí entendi que precisava usar o calçado certo para melhor seguir na caminhada. Também não estava acostumada com as ladeiras. As ladeiras sempre deixam mais difícil chegar ao topo, mas as dificuldades que nos possibilitam chegar até lá, ou não. 

Aos poucos, mas bem rapidamente, tudo foi se tornando conhecido e mais colorido, o medo deu espaço à intimidade e conforto. As pessoas não eram mais estranhas, mas sim amigas, acolhedoras. O estranho muitas vezes nos paralisa, mas tem horas na vida que sabemos que temos que transbordar, o quê? Não sei.  Só sei que igual não mais serei. E foi isso que vim buscar, uma nova eu, melhor, mais inteira, mais madura, mais corajosa e cheia de vida. Abraçar o inesperado sempre foi um medo, receber também, e hoje não mais os tenho.

Nem sempre o que serve para mim, serve para o outro, mas o que importa é o que te importa. Por anos fiquei tentando caber nas minhas e nas expectativas dos outros. No planejado, no idealizado principalmente. E isso até me levou a muitos lugares e a muitas frustações, mas acho também que faz parte, assim como fazer planos e mudar todos. O importante é a evolução. Faz um pouquinho, erra, aprende, segue, cria uma opinião, muda, depois muda novamente cheio de certezas, até entender que qualquer certeza nem sempre é certa. O que existe é o que é certo, ou o que melhor nos cabe em cada momento. E foi isso que entendi. 

Essa experiência tem sido incrível. Lindo poder pegar a sua vida, olhar para ela e decidir que o seu único compromisso é com você mesmo. Que você é dono de si e que pode fazer somente o que quiser. Lógico que não controlamos tudo e seres maduros sabem sobre responsabilidades e prudência. Quando criança sempre quis ter superpoderes; hoje tenho, e sei disso. Mas, esse superpoder tem que saber a hora de utilizá-lo e se pode utilizá-lo. Felizmente, posso me proporcionar isso. O que me faz olhar para trás e sorrir com cada pedra, cada não que me disseram, cada não que me disse, cada piano que empurrei, cada um que não quis ficar, cada sapo que engoli, cada noite que não dormi, cada escolha que não queria fazer e fiz, cada hora de terapia, cada desafio que assumi - que me trouxe até aqui, com frutos emocionais e financeiros que me proporcionam viver o momento mais pleno e feliz da minha vida. Nunca havia entendido a liberdade tão inteira. A liberdade não é uma condição, é um sentimento. O que me faz entender e comprovar que apesar de não ter sido o que planejei lá no passado para mim, é o melhor plano que a vida pôde me dar e não há espaço que caiba maior gratidão. Sem saber, eu mesma criei isso e sem saber sigo, sem saber o que virá. 


sábado, 15 de junho de 2024

Às vezes são portas, outras são janelas






O ditado popular fala: quando Deus fecha uma porta, abre uma janela. 

Deus sempre vai querer o melhor para nós, mesmo que ele feche uma porta na nossa cara e nem sempre a janela aberta vem assim no mesmo momento. Mas quando confiamos que ele quer o nosso melhor, a nossa relação com a aceitação dos fatos vem acompanhada com a esperança e um aprendizado que também não necessariamente temos no momento presente. 

Falando em momento presente, pouco vivemos o momento presente, normalmente estamos relembrando o passado ou querendo o futuro. 

O presente a própria palavra já diz, é um presente. Um presente de Deus. E cabe a nós ter a inteligência em vivenciá-lo em tempo real, mas teimamos em estar no celular. 

Muitas vezes estar no celular é bem mais divertido mesmo, principalmente por causa dos memes. 

Muitos ou poucos sabem da minha relação com a fé. A fé não é algo que racionalmente escolhemos. Talvez a intenção sim. Mas a fé é algo que vem de dentro de uma crença genuína, que existe algo maior, mais forte que a nossa própria força. Os galhos não dão folhas e frutos sem o tronco. 

A minha vida mudou quando me encontrei com a fé. Acho que na verdade me encontrei comigo mesma através da fé. E foi um belo de um encontro.

Primeiro comecei fazendo as pazes com o tempo e percebi que tinha todo tempo do mundo. Depois passei a ser mais legal comigo, me amar mais, fazer mais exercícios. Amar meu corpo e minha alma. Se você juntar a endorfina e a fé, os efeitos podem ser melhores que muita lipo e botox. 

Mas voltando. Sim, sou esse vai e volta de pensamentos e assuntos. 

Foi um encontro bonito, de almas. Ficar mais próximo de Deus foi como passear em um jardim e escutar a sua voz; como se ele pudesse tocar e acalmar o meu coração através de sinais, às vezes bobos, mas me abastecia de paciência e paz. Tô longe de ter virado Buda, mas passei a ficar bem menos possuída com as coisas. 

Fé não se discute, assim como time de futebol. Cada um pode ter a sua, cada um deve encontrar a sua e não querer evangelizar ninguém, somente inspirar que cada um encontre a sua própria, para melhor lidar com o presente, com as aceitações. O ponto de partida é a gratidão e ela está no presente. Gratidão pelo dia, pelo que se tem, pelas pessoas. A gente só muda através do amor, e nosso eu de amanhã não existe sem o nosso eu de hoje, então o presente é o processo. O medo é o processo. Ele caminha com a gente e tudo bem. 

Quando deixamos de acreditar em nós? Quando passamos a olhar só para as portas fechadas, sem perceber as janelas? 

Quando a nossa perspectiva muda, tudo muda, quando temos amor em nós, por nós, tudo muda. Quando nos conectamos com o sagrado, com a fé, tudo muda, e somos eternos mutantes, essa é a beleza da vida, da evolução. 

A felicidade está na trivialidade do dia a dia. Se algo não me deixa feliz, ou não está bem, é preciso fazer algo para que fique, e não precisa ser sozinho. A força maior vai me acolher, segurar a minha mão. A vida sempre será aquilo que te pertence e aparece no seu caminho, mesmo que você não queira. Tudo que acontece tem um sentido, mesmo que você não veja sentido nenhum, uma hora talvez você entenda. 

E é por isso que agradeço a Deus por todas as portas e janelas. Através delas posso atravessar, me atravessar, parar, ficar, enxergar, seguir ou somente apreciar a vista. Amém.

sexta-feira, 14 de junho de 2024

A moça do bar

 



Quando nós moças devemos tomar a decisão de sair sozinhas para um bar? 

Não tem regras, até porque o primeiro julgamento é o seu. O que vão falar se me verem sozinha lá? Este é sempre um dos pensamentos, mas se você tem mais de 40 anos, essa preocupação deveria já ter caído de regra.

A melhor parte de sair sozinha é observar, ouvir as conversas, sentir. Dar atenção ao que nunca damos quando saímos em grupo. O externo toma forma, sotaque, múltiplos sons, cheiro. A gente invade a vida dos outros. E tem vezes que é uma delícia invadir e ser invadida. 

Estou escrevendo esse texto em um bar, olhando para uma mulher que veste um conjunto listrado mais listrado que seus óculos amarelos. O cheiro agora é maconha, mas antes era do queijo serra da estrela. O som? Um jazz meio R&B, podia passar o dia ouvindo isso. A melhor dica que dou é, sente-se no bar, ou balcão e observe. 

Sair sozinha na minha visão de iniciante é estar no poder. Me sinto em um pedestal a observar o que nunca observaria se estivesse com outros, ou a dois. Vejo os olhares: quem é essa moça do bar? De onde ela vem? O que está fazendo aqui sozinha? 

A frase, o que está fazendo aqui sozinha se te agride ou te faz sentir pena de você, lhe digo: mude a forma de enxergar, se enxergar. A mulher sozinha está no comando, no pedestal que você mesma colocou, então para quebrar esse poder todo, sorria. Um sorriso de canto para manter o mistério. Observe e olhe para o nada, porque o objetivo é deixar fluir. E flui. Agora o papo aqui do lado é sobre ménage. Não escutaria um papo assim se não estivesse ouvindo. Já o casal do outro lado, encontro de aplicativo, fato! Agora o papo aqui do primeiro lado apimentou; a mulher tirou uma selfie e falou: fazer é nojento, mas vc faz pelo parceiro e pelo prazer que ele sente, mas que no caso dele, ele nem curtiu. Achou a mulher robótica. Expectativa sempre é uma merda até em uma ménage. Mas o mercado fechou e a moça do ménage não vai poder fazer brigadeiro de coco para filha. Super a entendi, porque também mudo de assunto como mudo de conversa no Whapp. 

Mas, voltando para o sair sozinha, o inusitado pode te surpreender. E o inusitado tem a visão que você da para ele: ele pode ser agnóstico, mais para o bem, ou mais para o terrível. Tudo vai depender da sua relação com o controle. 

Normalmente quem está no controle o que mais quer é descontrolar e quando perde o controle se descontrola. Vai entender.

Não devemos dar tanto peso às coisas que não tem peso. Sou mestre em não fazer isso. Sair sozinha é apenas sair. Somos adultas e sabemos nos cuidar. Então não tem o que se julgar, só desfrutar, pois o inesperado do descobrir é uma delícia. Então divirta-se, pois ninguém está vendo. Tim Tim! 

terça-feira, 9 de abril de 2024

Faz tempo que não escrevo aqui, faz tempo que escrevo só para mim e faz tempo que não me leio. Nas minhas releituras, encontrei textos surpreendentes e tão fortes, que nem eu sabia mais que podia transformar força em poesia - e que encontro tudo isso dentro de mim.  Onde nos desencontramos do que demoramos muito a encontrar? A gente vai se endurecendo, o mundo vai nos julgando e quando vemos, perdemos a melhor parte de nós; a doce, leve e a que se importa. 

Aconselho a todos, que nem sei mais se me leem, já que nem eu mais o fazia, a se lerem de vez em quando. Converse hoje com o seu eu do passado. O que mudou? Melhorou, se perdeu, ou está adormecido. Inteligentes são aqueles que sabem aproveitar o melhor de si, deixar ficar o que deve ficar e deixar ir o que não cabe mais. Às vezes a nossa pele fica pequena e como as lagostas, precisamos criar uma nova.

Nessas minhas releituras, encontrei um texto que escrevi em 2013, quando publiquei "A bailarina da loja de tapetes". E nesse texto entendi que não posso me afastar da escrita, de mim, mesmo escrevendo, porque materializar sensações é como sentí-las novamente. E maior beleza não há.


A história do sonho

Acordei, abri a gaveta. Tirei aquele sonho deixado de lado por anos. Peguei-o... ainda tinha formato de nuvem. Não tinha cheiro, forma, mas havia um sentido latente, vivo, apesar de quase empoeirado. Falou comigo, afinal, só dependia de mim, fazê-lo existir. Não foi num passe de mágica, aliás, nenhum passe de mágica aconteceu. Nessa receita de realizar sonhos, não teve mágica, mas magia. O que teve, foi muito trabalho... Tanto trabalho, só para parecer que não se trabalhou - a ponto de parecer, que tudo aconteceu como um passe de mágica. Mágica, ou mágico, realizar sonhos tem um sabor que só quem realiza, consegue entender o medo agradável de sentir. A campainha tocou. E o sonho chegou embrulhado. Não era uma cegonha, mas o motoboy, com você tão bem embrulhado, para não se machucar no caminho. Foi um caminho nem rápido, nem demorado; nem fácil, mas também, nem tão difícil. Foi um caminho do tamanho do tempo e esforço que precisava ter - para poder existir. O tempo exato para não se desistir. E assim, você chegou embrulhado com nome gravado. Nervosismo, emoção, medo, sentimentos não mais engasgados, rasgaram aquele pacote para poder sentir você em minhas mãos suadas. Podia tocar, tinha cheiro, forma, 268 páginas, era a minha cara... tinha vida, eco e todo sentido do mundo, descoberto, registrado... Depois de me sentir tão oca, a ponto de me acostumar a me sentir assim... agora era um enorme conjunto completo de mim. Segurei o meu sonho nas mãos. Me emocionei, me orgulhei, aliviei, respirei, respirei esse novo ar. Nunca havia tocado num sonho, foi como ver a neve. A nuvem se materializou, com nome e sobrenome de A bailarina da loja de tapetes, com preço de prateleira, mas de valor de uma vida inteira vivida, acompanhada da certeza de que nunca mais serei a mesma, pois agora eu sou eu - e vou me lançar.

Toda vez que sentir medo, não acreditar ou sei lá, vou reler esse texto da realizadora de sonhos, que sou eu! Agora vamos para um sonho maior ainda que terá o caminho do tamanho do tempo e esforço que precisa ter, guiado por uma fé transformadora. 


domingo, 11 de setembro de 2022

Dieta Emocional



Não estou me sentindo muito bem. Não é nada físico, mas algo dentro de mim – incomoda. Resolvi ir ao médico. Chegando lá, falei o que sentia. E mesmo falando, falando, ainda sim não conseguia definir exatamente o que era - para que o médico me passasse um medicamento que fizesse aquele incomodo desaparecer. 

Após meu blá blá blá infermo, o médico disse: “Você precisa de dieta”. E na mesma hora que disse isso, pensei: “Será que este incômodo são gases?”. Mas, para minha maior surpresa, o médico não me recomendou um Luftal, mas sim continuou: “Você está precisando de uma dieta emocional”. 

Dieta emocional? Fiquei mais de cinco minutos tentando entender o que ele queria dizer com aquilo, e o médico com muita paciência começou a me explicar a necessidade do tratamento – uma dieta de desintoxicação emocional.  

Precisava emagrecer meus sentimentos, esvaziar, tirar umas férias emocionais – descansar a alma – só assim conseguiria me tranquilizar e me limpar emocionalmente.  

Meus sentimentos estão inflamados, cheios de impurezas desnecessárias – e por isso, o incomodo – disse ele. 

O médico me fez entender que tem certas coisas que não se curam com medicamentos, se curam com exercício emocional. Gastamos tempo e energia nos preenchendo com rotinas, histórias, estresses e afins que só nos engordam de substâncias e sentimentos totalmente desnecessários. Temos que aprender a nos alimentar emocionalmente somente de sentimentos saudáveis.  

Ele me cortou tudo: redes sociais, ligações de madrugada, bebidas durante a semana, pessoas que não levam a nada, sexo casual, mensagens desnecessárias, conversas e exposições exageradas, encontros fadados ao fracasso, dar chance para quem não se tem interesse, desalinhos familiares, improdutividade profissional, vestidos apertados, projetos impossíveis, noites mal dormidas, jogar na Mega Sena, pratinhos rodando.  

Os primeiros dez dias, segundo ele, devem ser radicais. O importante desse corte é eliminar principalmente qualquer perda de tempo no que e em quem não me leva a nada e a lugar algum. Ao contrário dos exercícios físicos, o exercício principal nessa dieta é o da inércia. 

Explicou que tem horas na vida, que a melhor coisa é não fazer nada. Movimentos demasiados demais cansam demais, e a gente acaba nos desperdiçando, desperdiçando o melhor de nós em situações e com pessoas que não vão enxergar ou reconhecer - pelo menos agora. E todo esse movimento, só gera uma estafa emocional. 

Sempre achei o contrário. Quanto mais movimento, mais coisas aconteciam, mais rápido eram os resultados e mais se conquistava. Porém, só agora percebo quanta ansiedade ingeri e quanto tempo perco com histórias sem sentidos, em projetos fracassados, com pessoas que nunca se importaram ou vão se importar. Quanto tempo perco me alimentando de coisas emocionalmente ruins para minha alma. O quanto engordei com porcarias que jamais devia ter absorvido - e só agora percebo que quem esvazia a alma é livre.  

domingo, 24 de julho de 2022

Complicada e perfeitinha


 

A vida é como a música de Charlie Brown: complicada e perfeitinha. Complicada porque ela complica mesmo, e as pessoas complicam ainda mais e perfeitinha porque ela mesmo faz as coisas se encaixarem através de seus sinais. E a bichinha dá os sinais, um, dois ou mais. Algumas vezes de cara entendemos, outras nosso estado negacionista se faz cego e vira de costas. 

Gostamos de acreditar no que nos faz bem, e tudo bem. Mas, tem horas que precisamos entender a razão das coisas. Nada cruza nosso caminho sem propósito, sempre há um ensinamento e sempre, sempre será sobre nós, não sobre o outro. Nossa estada na terra é evolutiva e a evolução está em nossas vivências, aprendizados, e na vontade íntima de evolução. 

E porque insistimos em negar o que não nos faz bem, ou o que não é para nós?

Existem tantos porquês para essa pergunta, porém o mais tangível seja: porque temos algum ganho em ficar. Pode ser medo, hábito, baixa autoestima, ou qualquer coisa que emocionalmente nos conforta, nem que seja só par podermos reclamar. Qualquer mudança pede ação, e nem sempre estamos dispostos a ser ativos, ou temos a coragem de sermos maiores que as circunstâncias. 

Queremos tantas coisas, mas entre querer e ser existe esse espaço da ação que depende somente de nós. Queremos emagrecer, realizar um projeto, terminar uma relação, mudar de emprego, pedir perdão. Mas, insistimos nos acomodar nesse hiato que nos separa da reclamação para a realização. Nada é fácil, mas nem tudo é difícil. Se o ganho compensa, não fica tão difícil. 

A vida não é fácil porque ela exige de nós, dado que exigimos muito dela, de nós mesmos e do outro. Complicada e perfeitinha, cabe a você escolher com qual versão quer ficar.