terça-feira, 26 de agosto de 2025
Pau que bate em Chico, não bate em Francisco
sábado, 10 de maio de 2025
As pessoas oferecem o que gostariam de ser e entregam o que são.
Outro dia, me peguei pensando, com base em algumas experiências e percepções, que cada vez mais as pessoas estão criando uma personalidade no virtual e sustentando outra no real. Uma vez ouvi que eu era muito mais simpática por mensagem do que pessoalmente. Que, pessoalmente, eu era mais séria. E, nesse caso, achei a observação bem cirúrgica — de fato, sou mais séria em um primeiro contato. Já escutei também que sou brava. Brava… já não sei, se sei.
Fiquei pensando sobre essa desconexão entre a nossa personalidade no real e no virtual.
Por que o real se tornou tão desconfortável? Por que hoje responder espontaneamente e na hora nos gera, muitas vezes, reações de proteção? Como se o cérebro precisasse de um “delay” para avaliar e agir.
Tenho a sensação de que, no mundo virtual, podemos nos editar para versões que gostaríamos de ser. E, quando vamos para o real, não conseguimos fazer essa edição — causando uma distorção de personalidades. No virtual, temos coragem, entrega, humor e toda uma facilidade de ser o que não temos coragem de exibir no real: no olho no olho, no contato físico.
Viramos amedrontados da realidade, nos escondendo atrás de telas, onde apenas ali conseguimos ser nossa melhor versão e assim perdemos a coerência e autenticidade de nós mesmos — ainda mais agora, com a inteligência artificial que muda até o tom da nossa forma de dizer.
As identidades ficaram esvaziadas e medrosas diante do julgamento do outro e da sociedade.
No virtual, podemos disseminar amor e ódio sem barreiras ou fronteiras. Apoiamos causas, nos inserimos em movimentos populosos que nunca adotaríamos no mundo real, simplesmente por exigirem uma ação física.
Nossa identidade passou a ser definida pelos dedos: pelo dedilhar, pelas figurinhas e pelos memes — pela mente idealizada de nós mesmos e dos outros.
Quando, no real, o feedback do sentir, do experimentar, interage com nosso eu verdadeiro e toca todos os nossos gatilhos — sem que possamos disfarçar um olhar, um suor, um não saber lidar. Aí o interlocutor não reconhece, no real, a pessoa do virtual.
Cada vez fica mais claro para mim essa ruptura entre identidade virtual ou social e a pessoa real.
E, como diz o ditado, pau que bate em Chico também bate em Francisco. Devo fazer parte dessa mesma distorção. Será que terapia online resolve isso?
No virtual, escolhemos o que mostrar, e quando mostrar. Dá tempo de pensar. A reação ganha tempo para reagir. Escondemos uma boca trêmula, um coração acelerado, um sorriso nervoso. E o outro, do outro lado da tela, cria uma imagem com base na interpretação disso tudo.
Nessa distorção entre as personalidades do virtual e do real, a frustração com a imagem que construímos das pessoas se torna cada vez mais comum.
E como encontrar o caminho do meio? Como alinhar essas personalidades? Não sei. Vou perguntar ao GPT pra ver o que ele diz. Agora, nem do outro precisamos mais. O próprio GPT nos elogia, nos avalia, nos valida. E, em segundos, me sinto ainda mais autossuficiente.
De qualquer forma, entendo que esse alinhamento entre personalidades não é uma decisão racional. A energia do virtual é diferente da energia do real — e, em ambos, sentimos diferente, e por isso deixamos fluir de forma diferente.
No virtual, temos como base a interpretação, idealização, imaginação e projeção. No real, temos interação, reação, energia latente, olho no olho, cheiro, linguagem corporal, sabores e momentos reais.
Como diz a minha frase: a realidade tem um sabor que a imaginação não sabe; Na maioria das vezes, a realidade será minimamente diferente da imaginação.
Quantas vezes reservamos um hotel pela internet e, ao chegar, percebemos que o que tínhamos na mente era bem diferente da realidade?
Real e virtual são experiências que partem de perspectivas diferentes, mas nossa autenticidade deve ser única. Talvez o caminho para esse equilíbrio seja: fantasiar menos no virtual e tolerar mais no real. Projetar menos no virtual e se permitir mais no real.
E, também talvez, a pergunta mais consciente seja: sou capaz de sustentar isso no real?
E, já que todos aqui somos capazes de uma autoanálise:
Você se percebe como a mesma pessoa no virtual e no real?
Resposta do GPT (Caraca, sou muito boa!!Rs)
Talvez o alinhamento entre o virtual e o real não seja sobre ser igual em todos os contextos, mas sobre ser coerente. O caminho do meio pode estar na auto-observação: entender que não precisamos agir da mesma forma sempre, mas que nossas expressões — online ou offline — estejam alinhadas com quem realmente somos. Não se trata de eliminar nuances, mas de reduzir a distância entre a versão que mostramos e aquela que conseguimos sustentar no olho no olho. Quando há verdade, ainda que com diferenças de tom, há autenticidade. E talvez seja isso que falta: coragem para sermos inteiros, mesmo com as imperfeições expostas.
A menina e o Sabático
E o que faz sentido para mim pode ser completamente diferente do que faz sentido para você, porque cada um tem sua própria história. Talvez a pergunta mais importante seja: você é protagonista da sua própria história?
Cada pessoa que faz um sabático tem um propósito — uma motivação muito particular. Afinal, o que leva alguém à decisão de dar uma pausa ou viver experiências que dificilmente aconteceriam num fluxo de vida “normal” é diferente para cada um.
Para uns, é pausa; para outros, fuga; para outros ainda, resgate. No meu caso, foi transbordo.
Receber também é um ato de sabedoria.
Novos ciclos.
Um novo ciclo tem um sabor de dor e felicidade ao mesmo tempo. Dor porque, infelizmente, somos muito apegados ao passado, e nem sempre o velho ciclo era ruim — ele apenas não cabe mais. E até o que foi ruim, temos dificuldade em desapegar. Para que tanto apego, se precisamos praticar o desapego?
Felicidade porque — quem não gosta do novo, da descoberta, do inesperado e daquele frio na barriga? A novidade pulsa, e os desafios também. É como cortar o cabelo: por mais que esteja com pontas, minguado e sem brilho, a incerteza do novo corte dá insegurança, medo de não ficar bom — e depois, todo um processo de adaptação. E quando não fica bom, nos punimos pela má escolha.
Não adianta fingir que não sabemos quando um ciclo se encerra.
Crescer, evoluir, ser maior, mais espiritualizado, e se tornar aquele que descobre as insignificâncias é, também, abrir mão de muita coisa — e de muitas pessoas.
Agradeço à maturidade, que me ajuda a sofrer menos com certas decisões — mesmo quando Nossa Senhora do Ego vem me atormentar.
Só sei que os novos ciclos sempre precisarão dos antigos para existir — e talvez esteja aí a resposta que a gente tanto busca. Não seríamos quem somos se não tivéssemos passado pelo que passamos. Querer permanecer no mesmo ciclo é imaturidade emocional. Entender que a vida é cíclica é liberdade emocional.
Feliz novo ciclo!
sexta-feira, 25 de outubro de 2024
Minhas Composições | Transformei as escritas deste blog em música!!
terça-feira, 1 de outubro de 2024
Esgotamento emocional
Ao conversar com homens e mulheres vejo que existe um esgotamento emocional em relação aos encontros afetivos, principalmente nos aplicativos de relacionamentos. A sensação de rodar e rodar e estar sempre no mesmo lugar é comum e diria global.
As pessoas estão cada vez mais esgotadas dessa busca, não digo nem mais pela alma gêmea, mas por encontros saudáveis, reais e com alguma evolução.
Quando deixamos de nos interessar e sermos interessantes ao olhar do outro?
Vejo um desencontro generalizado, mesmo havendo uma genuína vontade de encontrar.
Será que o amor se perdeu, levando embora o romance e os romances passaram a ser com a própria autoestima?
Nem vou dizer: calma, porque já passou a fase de se desesperar por isso, fica só o cansaço da tentativa e erro para aqueles que ainda não desistiram de tentar.
Como o timing dos aplicativos é ainda mais rápido que os encontros tradicionais, se não falado no dia seguinte ao encontro, o ciclo dos matchs: busca, conexão, interesse e encontro, volta ao início: a busca - ou acelera outra conexão que estava esperando na fila. Aí ficamos que nem ratos de laboratório rodando nesse ciclo. O rato homem achando as mulheres interesseiras e desesperadas e a rata mulher achando que os homens só querem sexo e nenhuma conexão afetiva.
Acho isso tão demodê, mas ainda tão atual.
A generalização leva também a esse esgotamento emocional. E podemos perceber isso através de novas modalidades “paqueras” que estão surgindo. Aqui na Europa, uma rede de supermercado está muito popular por em um determinado horário solteiros circularem fazendo as suas compras em corredores específicos com um abacaxi de ponta cabeça. O corredor define o tipo de relacionamento ou abordagem que pode ser feita. Achei de tamanha inteligência, porque hoje as modalidades de assédio assassinaram as paqueras tão deliciosamente espontâneas. Sou da época que se paquerava no trânsito, no metrô, na fila do mercado. Primeiro veio o insulfilme, depois a censura, depois o celular fazendo com que cada um viva em seu mundo digitalmente paralelo.
A necessidade de conhecer gente, principalmente para os 40+ está tão latente que aplicativos que organizam jantares com desconhecidos, ou que criam grupos por interesses, crescem mundialmente e proporcionam pessoas conhecerem pessoas diversas para fins diversos: amizades, networking, troca de ideias, relacionamentos afetivos, sem a pressão e desgaste emocional que os aplicativos de relacionamentos geram - de atender a expectativa do outro.
Nessas minhas andanças e falanças, percebi que apesar de homens, mulheres e os gays quererem a mesma coisa: encontrar um parceiro de vida e construir uma relação de amor. A indisponibilidade emocional para abrir espaço para alguém entrar juntamente com a ausência de vontade de aceitar as incompletudes do outro, reforçam a normalização da solitude.
O acúmulo de desencontros está levando as pessoas cada vez mais trabalhar a solitude, o amor-próprio, e a autoestima. Esse excesso de “eu independente, forte, autossuficiente” também gera um distanciamento cognitivo do que nos conecta ao outro. E assim vamos fechando a portinha do coração, ao ponto de nos acostumarmos com a sala preenchida somente conosco, em paz ao som do silêncio, ou ouvindo a playlist da nossa história.
Para os corações solitários que ainda querem bater com a batida de alguém cafonamente juntinho apesar do descompasso da vida em tempos modernos. Acredito que o caminho está na desconstrução da paixão e na observação das possibilidades de amor. E para isso é necessário abrir espaço e ter paciência na dilatação das histórias, no olhar mais empático e menos crítico, inclusive com nós mesmos.
A paixão não se transforma em amor, ela é egoísta e uma grande falácia, ainda mais na maturidade. Na paixão você se melhora para uma única pessoa, no amor você melhora para todos.
Segundo Carpinejar: “Paixão divide a loucura, amor divide a normalidade”. E você busca a felicidade na loucura ou na normalidade?
terça-feira, 18 de junho de 2024
As pedras são portuguesas e a vista é linda.
Antes tudo era estranho, as ruas, as pessoas, o cheiro, a humidade. Me sentia estranha. Será que tomei a decisão certa? A estação de trem, de metrô, cenários tão comuns e tão incomuns para mim. Tudo era novo, até escolher direita e esquerda não parecia tão simples. Mas a vista, a sensação de liberdade compensava qualquer insegurança e dúvida quanto ao estável e certo deixado.
No caminho, as pedras portuguesas me guiavam, assim como me faziam escorregar, aí entendi que precisava usar o calçado certo para melhor seguir na caminhada. Também não estava acostumada com as ladeiras. As ladeiras sempre deixam mais difícil chegar ao topo, mas as dificuldades que nos possibilitam chegar até lá, ou não.
Aos poucos, mas bem rapidamente, tudo foi se tornando conhecido e mais colorido, o medo deu espaço à intimidade e conforto. As pessoas não eram mais estranhas, mas sim amigas, acolhedoras. O estranho muitas vezes nos paralisa, mas tem horas na vida que sabemos que temos que transbordar, o quê? Não sei. Só sei que igual não mais serei. E foi isso que vim buscar, uma nova eu, melhor, mais inteira, mais madura, mais corajosa e cheia de vida. Abraçar o inesperado sempre foi um medo, receber também, e hoje não mais os tenho.
Nem sempre o que serve para mim, serve para o outro, mas o que importa é o que te importa. Por anos fiquei tentando caber nas minhas e nas expectativas dos outros. No planejado, no idealizado principalmente. E isso até me levou a muitos lugares e a muitas frustações, mas acho também que faz parte, assim como fazer planos e mudar todos. O importante é a evolução. Faz um pouquinho, erra, aprende, segue, cria uma opinião, muda, depois muda novamente cheio de certezas, até entender que qualquer certeza nem sempre é certa. O que existe é o que é certo, ou o que melhor nos cabe em cada momento. E foi isso que entendi.
Essa experiência tem sido incrível. Lindo poder pegar a sua vida, olhar para ela e decidir que o seu único compromisso é com você mesmo. Que você é dono de si e que pode fazer somente o que quiser. Lógico que não controlamos tudo e seres maduros sabem sobre responsabilidades e prudência. Quando criança sempre quis ter superpoderes; hoje tenho, e sei disso. Mas, esse superpoder tem que saber a hora de utilizá-lo e se pode utilizá-lo. Felizmente, posso me proporcionar isso. O que me faz olhar para trás e sorrir com cada pedra, cada não que me disseram, cada não que me disse, cada piano que empurrei, cada um que não quis ficar, cada sapo que engoli, cada noite que não dormi, cada escolha que não queria fazer e fiz, cada hora de terapia, cada desafio que assumi - que me trouxe até aqui, com frutos emocionais e financeiros que me proporcionam viver o momento mais pleno e feliz da minha vida. Nunca havia entendido a liberdade tão inteira. A liberdade não é uma condição, é um sentimento. O que me faz entender e comprovar que apesar de não ter sido o que planejei lá no passado para mim, é o melhor plano que a vida pôde me dar e não há espaço que caiba maior gratidão. Sem saber, eu mesma criei isso e sem saber sigo, sem saber o que virá.