O
trem passava e a lua o acompanhava. Não a tinha percebido. Não a tinha me
tocado. Estava coberta sem espaço para perceber. Ocupada com o que não deveria
me ocupar. A poesia perdeu espaço. O espaço foi invadido por vazios
desnecessários. Onde ficou a poesia? Onde foi parar a lua? Por que fiquei cega,
triste? A lua se apagou dos meus olhos. Olhos de jabuticaba que brilhavam como
a lua. Linda, redonda.
No
trem a caminho de Paris entendi que não podemos sair dos trilhos. Viajar nos
túneis da neurose. Não existe espaço ficar cega a caminho de Paris, com uma
taça de vinho na mão e um coração que bate La vie en Rose. Não podemos cegar a lua, calar a música. Desviver a poesia. Paris não permite
isso. Todos sonham com Paris porque Paris é um sonho. Mas sonhos só se realizam
para quem se permite sonhar. Sem sonhadores tudo se torna simplesmente real,
racional, arrogantemente chato. Ateu. Até mais túneis. Quero somente estar a
220 km por hora olhando a lua, com uma taça de vinho na mão a caminho de Paris.
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