Conto escrito para o Clube da Leitura de 11/09 - Mote da semana: Suicidas.
Acordei,
minha cabeça doí. Ainda posso ouvir o som do frisson da noite passada. Levanto
e vejo a roupa branca no chão, as bebidas espalhadas. Me olho no espelho e nada
mudou.
Ando
pela casa até chegar à cozinha, e até então, nada mudou desde ontem à noite.
Pego o novo calendário e prego na geladeira. Jogo fora o velho e - transformar
o amanhã em hoje, jogando fora o ontem – continua sem mudar nada.
Abro a
janela, o sol brilha, e vejo a mesma paisagem comum de anos. Vou te procurar no
quarto esquerdo. Abro a porta e está vazio. Há quantos anos?
Volto
para a sala e aqui também, nada mudou. Decido ir ao quarto da bagunça, e lá, encontro
uma caixa. Nela há várias fotos, minhas, de momentos, de viagens, de amores, de
amigos, filhos, de diferentes paisagens. Junto todas, me olho no espelho de
novo e percebo que tudo mudou – só não sei quando.
Volto
para a geladeira e revejo as resoluções do outro ano e me parecem as mesmas
deste, do outro, do outro, do outro... Nada mudou: amor, dinheiro, saúde, paz,
emagrecer, fazer cursos, exercícios, gastar menos, poupar mais.... e ser
feliz, ser feliz... sempre as mesmas coisas, ontem, hoje, amanhã.
Feliz?
Amanhã? Para quê, se será igual a hoje e ontem?
Olho
novamente na janela e vejo a mesma paisagem, a estrada de sempre. Todos os dias
o sol nasce e tem essa estrada sinuosa ali bem a minha frente. Mas, hoje algo
sim tinha mudado. Havia uma placa, mas não consigo ler o que está escrito. A
alta luminosidade, os muitos carros passando me atrapalham a visão e me
confundem.
Vou ao
quarto da bagunça novamente, mas dessa vez para pegar um binóculo, e encontro também
uma arma.
Volto à
janela com o binóculo em uma mão e a arma na outra. Olho para eles. Estou
cansada. Coloco o binóculo no rosto para ler a placa. Me assusto. Tiro o
binóculo dos olhos após ler que a placa dizia: “O caminho dos sonhos”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário