quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Sinto muito

Quem não deixa de sentir para evitar a dor e quem não finge felicidades exibicionistas só para acreditar que está feliz?

Hoje com a conectividade e todos esses meios tecnológicos interagimos com as ilusões, as falsas realidades e com todas as histórias boas e ruins sobre qualquer coisa, situação, ou sentimento.

Nosso emocional agora sofre com a síndrome do pânico com um last seen, dois palitinhos azuis não respondido, dois cinza nunca lido ou com um palitinho bloqueado. Ele surta com uma foto, uma frase, um online às 4am, uma curtida ou um comentário de uma tal de Vanessa. Quem é Vanessa sem qualquer amigo em comum?

A imaginação em telas consumiu a verdade e ainda colocou pimenta nela.

Porque escolhemos sofrer tanto? Ou esse outdoor tecnológico todo é que nos faz sofrer esse tanto? Até as palavras consideradas frias antigamente enviadas num email, hoje também foram trocadas pelas storyboards que criamos em relação a vida do outro. Uma sucessão de possíveis histórias e sentimentos baseados em falsas ou não verdades.

Devíamos acreditar mais na Coca Cola que diz que imagem não é nada, sede é tudo.

Onde foi parar a verdade? Escondida em algum lugar em corações cada vez mais tristes?

A tecnologia nos descompassou. Nos esvaziou, escravizou e parece que ninguém ta querendo lá se libertar. Interagimos com outros outros que não somos nós e nem é você.

Louco? Sim e não. Não e sim. Mas louco sim. Somos loucos de substituirmos o real pelo imaginário. Pela idealização de vidas que não vamos viver,  de sensações que não vamos sentir.  E assim, deixamos de viver relações que podemos viver.

Precisamos de um selfi com curtidas para acreditarmos que somos bonitos. Até o espelho perdeu o seu papel. Agora a aprovação é tecnológica. E quem foi que disse que precisamos de aprovação alheia, o Google ou o Instagram? As palavras em texto perderam a verdade de seu tom, da sua intensidade e deram espaço às neuroses, ansiedades e tudo mais que você queira acreditar.

Hoje abrimos espaço para cada um criar sua história particular sobre o que somos, quando antes fazíamos o outro sentir a nossa verdade sobre o que de fato somos. Nos perdemos nessa linha não mais tênue e viramos um romance policial, uma ficção, um livro de terror ou uma grande piada. Deixamos de ser biografia faz tempo.

Interagimos o tempo todo, mas não interagimos mais.

Triste? Não sei. Diria confuso. Nosso emocional não acompanha essa modernidade toda. Às vezes ele acha que o desenho da Pepa se passa no Peixonauta ou que o candy crush poder ser mesmo balinhas de gomas que explodem. Ele se perde de forma infantil nesse real imaginário.

Mas com certeza existe algum ganho nisso, e só nós sabemos no íntimo esses ganhos e perdas, pois senão chamaríamos a Princesa Isabel para nos libertar, pois ela ta lá linda e loira em algum aplicativo.


Porém, se é isso que temos para hoje, então: sinto muito.

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