Depois do facebook o voto deixou de
ser secreto. Depois do facebook, o ditado de que não se discute: política, religião
e futebol, deixou de existir. Porém, depois dessa eleição, muitos amigos de
facebook deixaram de existir também. Em muitos casos, ainda bem, né? Afinal,
quem realmente tem mais de mil amigos na prática, dado que na prática não
encontramos ninguém?
Acumulamos tantas coisas
desnecessárias, inclusive a opinião alheia, não é mesmo?
Não quero cair na mesmice já
comentada lá mesmo no facebook sobre as opiniões políticas dessa eleição. Todos
já vimos a sua, a minha, a dele e até dos perfis falsos com informações
duvidosas. No fundo, no fundo, tanto a minha quanto a opinião do outro não vale
de absolutamente nada, porque afinal de contas, o que conta é o que vale para
você.
Se até o voto é egoísta, já que é
secreto, vamos falar de nós?
A parte mais secreta de nossas vidas
hoje é a senha do celular que revela todas as verdades sobre nós mesmos.
Na era do selfie vamos falar de nós?
Que nós?
Sim, o nós comum, o que é igual para
todos esses nós iguais a nós, que cabem em nossas selfies.
Povo? O povo também é egoísta igual a
nós, a ponto de ter mais filhos para se autobeneficiar.
Somos todos a visão política da parte
que a gente enxerga, que a gente entende, que a gente vê, toca e sente, alocado
no grupo produtivo, ou não, que vai ajudar a nos beneficiar, mesmo que
inconscientemente. Afinal a nossa vida é só nossa, assim como a nossa dor, com
ou sem meritocracia. Não é o outro que vive a nossa vida ou você que vive a
dele. E mesmo que a sua parte seja a 48,36% de mudança, ou a 51,64% do mesmo,
ainda sim, é a sua parte capaz de entender empaticamente o seu eu para você
mesmo do que está ou não bom.
Nascemos sozinhos, morremos sozinhos,
vivemos cada vez mais sozinhos num grande aprendizado de autoconhecimento e
sobrevivência. Passamos 24h com nós mesmos e não nos entendemos, vamos querer
entender o outro?
Porém, ao mesmo tempo que somos
incapazes de conhecer o vizinho, somos um povo capaz de ajudar um desconhecido,
salvar uma vida, ir as ruas manifestar, gritar quando vê uma injustiça, amar
sem qualquer razão, mas principalmente ainda somos o povo que se emociona ao
cantar o hino nacional.
Sinceramente, espero que dentro desse
enorme paradoxo de nós mesmos, ainda exista espaço para a esperança no outro e
a ação para não passividade em lutar pelo que a gente acredita.
Obs: pelo sim pelo não, comecei a
rezar também, fé nunca é demais. Que o Santo Sírio Libanês não me atrapalhe
dessa vez.