Tudo pode virar literatura.
Mas nem toda literatura pode virar poesia. E não é porque um fato virou
literatura é que ele de fato é importante.
Depois que virei escritora descobri
isso, tudo que se vive, ouve, escuta, sente, pode virar literatura, mas não
necessariamente aquilo que foi escrito é importante. Pode ser apenas um fato,
um texto, um conto, uma crônica, um verso, um tempo passado, ou até um deboche,
vai saber?
Escuto muita coisa por aí,
escrevo muitas delas, adoro histórias frescas, vividas, reais. As melhores
histórias contadas são as reais. A vivência tem um sabor que a imaginação não
sabe. Então, a vida vira um grande laboratório de letrinhas.
Um escritor escrever a sua história
é normal, ele é escritor. Um matemático fazer uma conta certa é normal, ele é
matemático. Um pintor pintar um quadro é normal, ele é um pintor.
Costumo ouvir: não vai
escrever um texto sobre isso, viu? Ou, essa vai estar no seu próximo livro?
E mais uma vez; tudo pode
virar literatura.
Sorte a sua, ou o azar o seu,
de estar escrito aqui ou ali por conta de uma vivência ou observância cotidiana,
mas sinto lhe dizer que é apenas literatura. O quão especial essa literatura é está
na vivência, ou não, das entrelinhas que as palavras não dizem - que às vezes
nunca vamos saber.
Porém, a magia dessa arte é
saber transformar um fato comum em algo capaz de tocar tanta gente justamente por
ser comum a todos, e por ser comum a tanta gente é que se torna especial - e isso
sim é literatura.
Dias de Clarice vem aí e um pouco de você pode estar nessa história.