Na
minha época, Lulu ou Lulus era como chamávamos os encontros das meninas - por
conta da história em quadrinhos. Nos reuníamos para contar sobre os amores,
sonhos, roupas da moda, tratamentos estéticos, brigas de família, conjugais... até
hoje nos encontramos para jogar conversa fora, beber, rir, chorar, estar juntas
e comer brigadeiro.
Na
minha época as coisas eram mais puras, tinha poesia, mistério, o descobrir aos
poucos.... e a brincadeira mais ousada era pera, uva, maçã ou salada mista?
Falando
assim, parece que a minha época faz muito tempo, mas nesse pouco tempo que
passou, ficou tudo assado, misturado, azedado, conturbado, desrespeitado.
Na
época de hoje, chamada de tempos modernos, adolescentes se matam por causa de
vídeo erótico no youtube, fazem micareta online pelo Tinder e dão notas aos
mocinhos no aplicativo Lulu – a mais nova sensação nos celulares das mocinhas.
Sem
pedir licença, até onde a conectividade das redes sociais vai chegar? O
facebook virou um DNA pessoal, sem direito a defesa. Será que em algum momento
isso vai colapsar? Porque definitivamente passamos dos limites.
Às
vezes olho para mim e para o celular; e quando olho para mim, sei que a mocinha
do espelho não é, não sente e não vive aquela mesma vida do celular... ela é
muito mais real que aquilo, ela sofre muito mais que aquilo, ela é muito mais
espontânea que aquilo, ela transborda muito mais que aquilo, o cabelo dela é
muito mais enrolado que aquilo, mas principalmente ela sente, sente
profundamente mais que aquilo que está estampado nas fotos e nos comentários
que caem bem, ou que fazem rir. Será que estou começando a ficar com medo do
que estou criando ali dentro?
Coloco o texto na primeira pessoa, porque sei
que a minha pessoa é pessoa como a sua, e todas essas pessoas que criamos,
infelizmente hoje fazem parte de nós para completar a pessoa que não somos e
que gostaríamos de ser.
Tirando
o LSD, porque é isso que essa conectividade faz: vicia e alucina, peço de
verdade um STOP para pensarmos a que ponto o desrespeito, a invasão de
privacidade e a falta de sabedoria no uso das redes sociais chegou.
Um
dia, não tão distante, até os passarinhos e o mar passarão despercebidos aos
olhos nos celulares... e então passarinho.
Esse
aplicativo Lulu, além de ser infanto-juvenil demais, é a materialização de tudo
que nós mulheres temos que lutar contra. É dar tiro no próprio pé e depois é a
gente que sai mancando. Legal, incomodamos os homens, chamamos a atenção deles,
mexemos no ego, nos brios e na virilidade, mas para quê? Agredir
deliberadamente é agredir a si mesma, porque só responde a um aplicativo desses
quem quer desesperadamente um amor, mas se sente tão ferida que precisa agredir
de alguma forma os cretinos que não a amaram.
Ou
você acha que esse aplicativo é mesmo um clube da Luluzinha para ajudar
mocinhas, desconhecidas encalhadas como você a não serem enroladas por Bolinhas
malandros que nos mesmas criamos? #mulhernãoajudamulherquandooassuntoéhomem,chuchu.