- O que é que tem ali?
- Não tem nada, é um arbusto.
- Mas eu vi uma
sombra se mexendo.
- É o vento das
folhas, não é nada.
- E se for uma
fada?
- Não é fada.
- E se for uma
bruxa?
- Não e uma bruxa,
fica quietinha agora , ou vai pra cama já.
- Seria tão bom se
aparecesse uma fada aqui pra gente, né mãe?
- Seria. Agora
sossega.
(Trecho do livro Mar de dentro - Lya Luft)
Quando perdemos a magia? Quando paramos de acreditar?
Seria tão bom poder amadurecer
sem perder o olhar da pureza sonhada das crianças. Quando deixamos de ser
criança e passamos a ser rocha, céticos, marcados por arranhões? A culpa foi do
tempo, da vida ou fomos nós que nos deixamos de castigo, para ficarmos assim?
Assim como? Assim..... duro,
pesado, sem cheiro, sem cor, chatos, achatados... e não foi de propósito, foi
sem sentir, não querendo, mas foi. Quando a gente viu, já foi, já é, ficou.
Mas, não era assim, era? Não, não era... Mas ficou sem fada, fadado a isso até
que a gente se pare e se junte ao que separa os livros dos contos de fadas de
nós.
Nós mulheres temos capacidade
enorme de dar asas a imaginação a histórias ilusórias, ou que não vão dar em
nada. Somos especialistas em imaginar o que passa na cabeça do homem, mesmo
quando não está se passando nada, ele só não está muito a fim de conversar, e
só, e só... sem legendas – pena que a gente nunca entende. Nesses casos ao
invés de fadas, vemos monstros e assombrações tenebrosas, só para sofrer sem
qualquer fundamento.
Substituímos a imaginação
leve, infantil, pura – a nosso favor, pela pesada, aquela que nos boicota e totalmente
do contra.
Vou te contar um historia,
outro dia confundi uma fada com um arbusto. A fada era a beleza de viver o
melhor que se podia viver naquele momento, naquela viagem, naquele encontro ou
reencontro, no programa de TV com a família, no sexo semanal. Já o arbusto
atrapalhava a visão, podia ser mais verde, estar em outro lugar, ou não me
custar mais dinheiro. Estava tão impaciente com aquele maldito arbusto, que
jamais perceberia que ao invés de arbusto poderia ser uma fada... e nessa
impercepcão da rotina a beleza da vida morreu prematura.