Cada vez mais usamos o GPS para nos levar a caminhos que não sabemos ou lembramos como chegar. O meu, que já veio com nome de Fábio (por pura sina ou não), parece ter vida própria, e por mais que eu decida fazer um caminho que acho melhor, ele decide por outro sem qualquer lógica aparente, ou cerimônia - eu querendo ou não. Porém, muitas outras vezes também, ele me salva quando estou completamente perdida, simplesmente me guiando.
Analogias a parte, a vida não tem sido de certa forma assim?
Hoje terceirizamos as atividades do dia-a-dia, muitas vezes as ideias e até as emoções. Deixamos os aplicativos práticos nos guiar, a vida no piloto automático e seguimos sabe lá Deus como. Pior que isso, devido à urgência, dinamismo, excesso de tudo e falta de tempo, seguimos na vida como os GPSs, através dos caminhos: rápidos, curtos e fáceis.
Nem sempre o caminho mais rápido é o mais curto e fácil, porém chega logo. Já o mais curto, nem sempre é o mais rápido, ou fácil, porém vai direto ao ponto sem rodeios. E o mais fácil, esse é fácil, nem sempre chega mais rápido, ou é curto, porém requer pouco ou nenhum esforço.
Aí pergunto novamente, seguimos na vida muito diferente de nossos GPSs (existe plural para GPS?)?
Quando vamos fazer um curso, escolhemos normalmente o com melhor conteúdo no menor prazo. Quando os cursos são longos, às vezes não fazemos, pelo simples fato de não sabermos como estará as nossas vidas, em poucos meses, ou anos. Assim como outros inúmeros compromissos mais duradouros. Não estamos nem mais fazendo contratos de locação sem a clausula para sair sem multa em 12 meses, pois tudo pode mudar em um ano. Pior que isso é não queremos mais fazer as compras a prazo, mesmo a juros 0, pois antes de terminar de pagar já queremos substituir o que compramos. Queremos dietas mais curtas, roupas mais curtas, histórias mais curtas, matérias mais curtas e até cabelos mais curtos, por serem mais práticos. Descobrir aos poucos, ou viver tudo numa noite só? Na noite, você investe seu tempo naquela bela menina tímida na dela, ou na outra que já te olhou e perguntou “Qual o seu nome, Bonitão?”. As mais fáceis, as da lei do nenhum esforço sempre ganham – sem discussão. E na hora H, com ou sem camisinha? Fazer comida, ou comprar pronta? E por aí vamos, nesse GPS da vida de modelo rápido, curto e fácil.
E nos tornamos o quê? Práticos ou rasos?
Paradoxalmente a esta urgência simplista, estagnamos na superfície do que poderia ser denso, profundo e construído. Deixando grandes possíveis conquistas de lado, grandes sonhos de lado, grandes amores de lado. Terapia ou o Rivotril? Fugir ou conversar? Viver uma vida saudável ou cheia de anfetamina? Amar ou ter várias momentâneas paixões? Ter um filho ou ter sobrinhos? E por aí vamos boiando nessa superficialidade, ao ponto de não mais aprender ou perceber os caminhos possíveis que nos cercam. Se sempre soubemos que viver não é rápido, curto ou fácil, como podemos buscar essa praticidade linear, que quando retratada em um eletro cardiograma representa a morte?
Por isso, busque desligar um pouco o GPS da vida para criar, experimentar e errar seus próprios caminhos e não passar uma vida inteira numa linha reta sem sequer perceber o que tem ao redor.
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