Pau que bate em Chico, não bate em Francisco.
Teoricamente, todos deveríamos ter os mesmos direitos. Mas direito é algo que se perdeu faz tempo no Brasil e na sociedade.
Não temos mais o direito de ir e vir: podemos ser assaltados e mortos no caminho. De olhar para o céu ou sentar sob uma árvore ao ar livre. A rua virou medo, uma liberdade arruinada.
Perdemos o direito de opinar e de sermos conservadores. O direito romano, pilar da sociedade ocidental moderna, foi assassinado pelo antagonismo. O convencional perdeu o direito de ser de direita, enquanto o feminismo ganhou o direito de ser o machismo reverso. Perdemos o direito de nos expressar livremente e de ter autoridade sobre as crianças. Perdemos até o direito de envelhecer. Opinar virou crime, ser normal é errado, quem fala correto já está cancelado.
Pau que bate em Chico, bate em João, na Paula, na Joana — só não bate em quem bateu.
Perdemos o direito de prender quem rouba, mata e engana, de nos defender. Viramos bolhas, cárceres privados, para proteger a pele e a família em um sistema fechado.
Perdemos o direito de sonhar com um país melhor, de acreditar na justiça — virou utopia. Perdemos o direito à arte, à poesia, à música da alma. Foi tudo vendido, sexualizado em uma mídia fria.
Perdemos o direito de ser caretas, de acreditar na monogamia, no amor, no cuidado, de confiar nas pessoas. Perdemos o direito para a hipocrisia, para a tecnologia, para a robotização e para a IA. Homens perderam o direito de serem homens, mulheres de serem mulheres. Viramos super-heróis com poder de Zé Mané.
Onde ficou o direito?
Ganhamos apenas o direito de relativizar a ética, o certo e o errado, o belo e o feio. O natural perdeu espaço para o artificial. O construído foi desconstruído para ser reconstruído, onde democracia e moral não são mais virtudes — e o jogo do poder virou um absurdo sem regras.
Achamos que ganhamos direitos, mas colhemos segregação — como na Arte da Guerra: dividir para conquistar. Demos direito ao ódio e ao salve-se quem puder. O direito foi obrigado a virar à esquerda, e está ladeira abaixo. O coletivo perdeu o direito para o individualismo manipulado — e o povo entristeceu.
Não sei se existe saída, se as coisas vão melhorar. Mas a fé não pode perder o direito de existir. Discordar não deve ser confundido com ódio.
Somos todos Francisco. Mas se você quer ser Chico; eu só peço respeito, só peço ser Francisco. Porque pau que bate em Chico, também bate em Francisco.