Você costuma levar trabalho para casa? Era bem comum nos perguntarem isso há nem tanto tempo atrás. Hoje, casa e trabalho para muitos não são mais ambientes separados.
Nesse aprendizado de convivência e de produção em pandemia, a vida e o trabalho passaram a morar juntos, a ocuparem o mesmo espaço, apenas com horários diferentes – para todos aqueles que puderam literalmente levar seus trabalhos para casa.
Em um primeiro momento não foi nada fácil e funcional. O trabalho era espaçoso, tomou conta de todos os horários e ambientes. Um caos só. Tiveram casas que eram consultórios, escolas, escritórios, academias e mais tudo que podia ou precisava caber ali dentro. O físico deu espaço ao digital, e uma nova vida precisou ser criada, pois todos os protocolos que separavam a vida do trabalho foram quebrados.
Crianças e cachorros passaram a participar de reuniões, pijama passou a fazer parte do dress code, e até idas ao banheiro desatentas e brigas de casais foram palcos dessa nova realidade do mundo do trabalho. Seu chefe não passa mais para olhar se você está em sua mesa, e nem sei mais se ainda existe folha de ponto. Mesmo com toda essa “liberdade” e “informalidade” a pandemia mostrou um aumento absurdo de produtividade, redução de custos e agora, devido “ao fim” da quarentena - um aumento considerável de qualidade de vida.
Quantas descobertas e aprendizados, estamos passando! No início me senti invadida, sem ser dona da minha agenda e vida, hoje vivo o contrário, encaixo meu trabalho na minha vida. Na verdade, trabalho e vida viraram uma coisa só, apenas com deveres diferentes. Podemos acordar quase na hora de uma reunião, terminar outra mais cedo para levar os filhos na escola, fazer um call passeando com o cachorro, ou fazendo o almoço. Fazer academia, unha ou massagem entre uma reunião e outra, e até arrumar um amor em outro país e ir morar lá sem qualquer problema logístico ou impacto nos resultados.
Liquidaram os protocolos e nos deixaram nas essências. Na essência de nossas funções e carreiras, na essência de nossa realidade, das pessoas que moramos e convivemos, mas principalmente na nossa essência. Na nossa essência...
Esse novo modelo de vida e trabalho, nos deu a liberdade de tempo e escolhas. Antes, era fácil dizer que éramos vítimas de nossa profissão, rotina, trânsito... fatores e condições que não podíamos mudar; hoje podemos montar múltiplos formatos e ainda sermos mais produtivos. Porém, o que quero dizer é que esse novo modelo de vida e trabalho nos deu um grau de consciência e responsabilidade que não sei se todos estavam preparados para ter e enxergar.
Por exemplo, todo o inesperado e glamour da minha profissão - de viagens internacionais, almoços, eventos, treinamentos com diversas pessoas e lugares, looks incríveis todos os dias, encontros com executivos nos corredores, trocas de ideias e papos riquíssimos sem agendamentos que aconteciam naturalmente, deu espaço só e unicamente para as atividades que exerço para atingimento das metas que sempre existiram.
Natural dizer e pensar que a pandemia me tirou a parte boa, e só deixou a ruim da minha profissão.
Construímos a ideia, verbalizamos e reforçamos que trabalhar é penoso, uma obrigação, que de segunda a sexta não temos vida e que queremos ganhar na loteria para ser feliz. Aguardamos ansiosamente para dizer: “sextou” em todas as redes sociais.
Estava ouvindo uma palestra semana passada que falava sobre isso: passamos a semana toda esperando “sextar” – como se vida só acontecesse entre às 18h de sexta até domingo ao dormir, triste inclusive, por saber que o dia seguinte é segunda e começa tudo novamente.
A nossa vida acontece todos os dias e temos que ser felizes no durante. O famoso se divertir no processo. Tudo é um processo, que te leva a algum lugar – bom ou ruim. Não rasgue nenhum dia da sua semana ou da sua vida! Se o inesperado e o glamour da minha profissão são o que me fazem gostar dela, está errado. Apenas estou mascarando com maquiagem algo que não me dá prazer, não tem significado para mim. Assim como nossa casa, nossa vida, quem somos. Tava tudo muito cheio de maquiagem, no automático antes da pandemia chegar e chacoalhar tudo, não é verdade?
Aceite esse demaquilante, olhe para sua agenda como uma linha contínua de vida para ser vivida, construída, trabalhada, você como protagonista e tomador de decisões. O que não está legal, mude, existem milhões de opções que antes não eram possíveis. Bagunce tudo, experimente, torne as atividades corriqueiras divertidas, mude o cenário, construa espaços para o ócio criativo, comemore e fique feliz com cada conquista, ideia.
Ficou mais difícil mesmo se reinventar dentro de casa, dá preguiça. Mas, o que nos trouxe até aqui não nos levará adiante se continuarmos esperando o “sextar”, até porque nem do sofá eu saio, e abrir uma cerveja, posso fazer isso em qualquer horário que eu quiser. Transforme a sua rotina em um verbo diário: Viver.
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