segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Ganhei dez anos...

Os quarenta agora são os novos trinta. Demorei dois anos para entender essa expressão, mas finalmente entendi - e agora posso explicar esse alargamento da idade, não só pela perspectiva estética botoxmente paralisada, mas cronologicamente modificada.

Não sei se foi o mundo que mudou nosso comportamento, ou se foi o nosso comportamento que mudou o mundo. Essa frase vai lá para a caixinha onde estão o ovo e a galinha, juntamente com o biscoito Tostines.

Se analisarmos as gerações passadas: pais, avós, bisavós, percebemos claramente isso. Os ciclos eram marcados conforme as faixas etárias. Para os da geração Cringe, como eu: nossas bisavós se casavam de quatorze a dezoito anos, nossas avós até vinte anos, nossas mães se casassem depois dos vinte quatro já estavam velhas – e ter filho depois dos trinta anos então, era considerado gravidez tardia.

O que mudou de lá para cá? 

Com a revolução tecnológica e novos hábitos, o tempo ficou atemporal e muitas vezes invertido. Hoje o mocinho fica com a mocinha no início, não mais no final. Conhecer para querer e não mais querer conhecer. Uma drástica sutil diferença, que pode levar à indiferença. Quero, logo gosto. Gosto, mas não necessariamente, quero. 

Porém, as referências e modelo mental de nós Cringes – ou qualquer outro termo que queiram falar dos anos oitenta, (tô nem aí), ainda são os nossos pais; ao contrário dos Millenials and beyond, que ainda moram com os pais e só pensam em casar e ter filhos depois de montarem empresas e fazerem seu primeiro milhão antes dos trinta anos. 

O mundo mudou, as carreiras e os relacionamentos mudaram, e hoje podemos viver um monte de histórias felizes e tristes numa vida só, sem muita ordem.

Então, racionalmente entendo que ganhei dez anos nessa transição matemática da mudança de comportamento, mas emocionalmente ainda me prendo no comportamento da geração passada. E nesse entendimento do racional com o emocional é que mora a libertação das cobranças internas e externas.

Hum....

Ao contrário do que pensam sobre os quarentões que atingiram essa idade sem se casarem ou terem filhos (ainda) – de que estão encalhados, ficaram para titios, possuem algum problema, carma, má sorte, traumas, ou que o cupido morreu de Covid. Talvez, apenas talvez, vale a reflexão de que eles usaram esse tempo para se construir vivendo uma vida escolhida. O amor foi, é e sempre será atemporal. Casar e ter filhos, naquela faixa de tempo, não é sinônimo de necessidade ou felicidade, mas ser independente, praticar o amor e se orgulhar de si próprio, sim.

Hoje, a metade da laranja virou uma laranja inteira que pode ter uma saudável combinação de sabores com outras frutas e temperos, ou ser simplesmente feliz sendo laranja.

Que bom que me construí e ganhei de brinde dez anos para viver todas as possibilidades da melhor versão da minha própria história – que venham os novos quarenta!