Já se passaram algumas dezenas de dias que nossas mensagens e corpos não se trocaram e tocaram mais. Até o dia que a sua vontade procurou minha ansiedade por você.
Nos encontramos no formato tradicional, sem espaço para um amanhã no calor da minha cama. Meus lençóis adoram quando você vem.
Te vi infeliz e eu também, mas nossos sorrisos sempre enganam dizendo que está tudo bem.
Minha alma se enche de esperança só de olhar para você. Já entendi que não existe futuro entre nós, mas só de você me trazer o cheiro da esperança quando fecho os olhos, minha boca enche de água para viver, com ou sem você.
Respirar essa sensação me deixa tão viva e inspirada, que nem o vazio do dia seguinte me maltrata. Seus maus tratos da indiferença não me agridem mais. Eles são um mix de me sentir viva e morta ao mesmo tempo. E a vida não deixa de ser essa linha tênue de brincadeira de morto e vivo.
Aquela noite foi diferente. Existia uma conexão intensa falada maior, mesmo quando em silêncio. Olho para os ponteiros do relógio não digital e lembro que neste mesmo horário a uma semana atrás você estava dentro de mim penetrado como nunca esteve.
Já esteve tantas vezes dentro de mim, mas nunca dessa forma, inteiro, ou quase. Você penetrou a minha alma, o meu sentir. Pela primeira vez éramos um só gritando. Posso te ouvir dizer que estava com saudades, que me queria mais perto com meu corpo suado e pegando fogo.
Pegamos fogo de uma forma tão encaixada que até nossos quilos a mais se abraçaram confortavelmente.
Nosso gozo molhado refletido olho no olho me levou para um lugar que nem me lembrava mais. Era tão sua em seus braços que não mais me pertencia, não mais me sentia, era como se eu pudesse tocar na sensação de estar viva.
Meu corpo tremia de um prazer assustado. Assustado pelo prazer de sentir algo já perdido em minhas memórias afetivas. Um prazer bom e ao mesmo tempo vazio, mesmo tendo gente dentro.
Seu corpo era meu, sua alma estava comigo, mas seu coração está preso num passado sofrido onde eu não existo.
Um coração cego, não vive.
Seu corpo está fechado para qualquer uma que bata à sua porta. Porque você não pertence a si mesmo. Você pertence a uma decepção velada, a uma dor sem resposta para todas as suas perguntas.
Porém, existem perguntas que não terão respostas e as respostas estão no que ainda está por vir, então viva!
Por alguns minutos sei que você aliviou a dor, sei que você estava em mim vivo no momento sem pertencer a ela, mas também sei que no mesmo minuto que recuperou o ar, ela voltou, e nos distanciamos.
Não sei por quanto tempo ficamos ali deitados: você, eu e ela. Só sei que depois desse atemporal período respirado, você se foi, tinha que buscar o carro estacionado numa rua perigosa e eu ali fiquei parada também perigosa.
Sou complicado, eu sei... essa foi sua frase final.
Homem em situação de perigo, foge. Homem em situação vulnerável, também foge.
Vai direitinho, avisa quando chegar... essa foi minha frase final.
Meia hora depois:
Cheguei...
E nesse diálogo de vivências, não chegamos a lugar nenhum, seguimos parados.