O homem só para quando param
ele. E hoje, no mundo moderno, só as catástrofes estão fazendo com os homens
parem. Parem para olhar, por 72h ou menos, o que no cotidiano não devia passar
despercebido. A justiça divina não chega à toa para 231 jovens ao mesmo tempo
por puro acaso. Recebemos sinais todos os dias, mas estamos muito ocupados no
whatsApp e postando no facebook felicidades para perceber. Banalizamos as coisas
achando que não é nada, que não tem problema, que é bobagem não jogar lixo na
rua. Aí vem Deus, um furação, uma enchente, uma explosão de gás, um rombo na
camada de ozônio, um ente querido com Aids para dizer: “Olha a bobagem!” e a
gente responde: “Nossa que tragédia!”.
Não que temos que viver com a síndrome
do pânico, nada disso, mas costumamos confundir intensidade com imprudência. E
essa é a linha tênue entre viver bem e arriscadamente. Ok ok ok, viver sempre
será um risco, mas não podemos mais ficar míopes com riscos básicos, com
assuntos básicos. A gente assume os riscos, mas não aguentamos as consequências
deles e depois culpamos alguém, criamos novas leis ou justificamos que não
fomos informados, mesmo sabendo que não fomos nos informar.
Se não sabemos viver em
comunidade em um condomínio residencial, tratar ao outro, vamos nos preocupar
com a água do mundo, a paz mundial, a fome, um policial corrupto, um cinto de
segurança, ou um capacete que estraga os cabelos?
O ser humano se acostumou a
aprender só quando perde - quando dói no bolso, na saúde, ou no coração. Se estornar
uma taxa de R$3,50 do banco já dá trabalho, imagine salvar as pessoas e o
mundo? Fora que a gente não acorda com o instinto Super Herói todos os dias. E,
mesmo que acordássemos, sabe o que ia acontecer? Nada, nem iam perceber – só se
mandássemos por whatsApp ou se postássemos no facebook, pois lá tem a opção “curti”
. Resultados do “indesinvolvimento” moderno. O homem constrói para depois
destruir, ou vice e versa.
Mas, pensando cá com meus
botões, não sei se chego a uma opinião, um caminho do meio sobre a visão e a ceguisse
completa, onde podemos transferir para Deus nosso destino e assim seguirmos um
pouco felizes.
O que aconteceria se saíssemos da
escuridão e enxergássemos com clareza esses riscos todos? Somos capazes de
suportar, em caminhar com o medo, em verificar todas as portas de emergência, todas
as doenças sexualmente transmissíveis quando não usamos camisinha, ou se os dirigentes
estão cumprindo seus papéis e as leis? Somos capazes de suportar isso com
responsabilidade no cotidiano?
Realmente não sei; justamente
por saber que da mesma forma que o conhecimento trouxe a evolução, a enxurrada
de informação, conectividade e acessibilidade do mundo moderno, trouxe também enorme
infelicidade à população. Você acha que investir na educação e proporcionar o conhecimento
é de interesse político? De verdade você acredita nisso? A ignorância é
extremamente confortável e com tamanha quantidade de tragédias desse mesmo
cotidiano trabalhoso, injusto e duro, o que o povo precisa é de alegria e
Carnaval – pré Carnaval, pós Carnaval e pizza o ano inteiro!
Triste sempre vai ser,
enxergando ou não. Mas, mesmo assim, ainda me sensibilizo com somos capazes de
nos doar de corpo e alma instintivamente pela vida e dor do outro sem pedir
nada em troca, pena que só na hora do pânico.
Deixo aqui minha solidariedade a
todos que tiveram que morrer para nos fazer enxergar, nem que seja por um dia.
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