segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Achatados pela Pirâmide


Neste fim de ano estamos enfrentando a recessão no mercado internacional e nacional. Falando do mercado de trabalho, temos ambientes cada vez mais dinâmicos, competitivos e planos de carreiras cada vez mais questionáveis.

Falam de escassez de profissionais, do crescimento da taxa de desemprego, crise e super qualificação. Mercados com grande oferta de profissionais, outros com pouca. Uns pagam altos salários, outros baixos.

O ponto disso tudo não é o mercado, nem o dinamismo dele, mas nós sobreviventes ou passantes por ele, que estamos achatados no meio dessa enorme pirâmide corporativa num “estado gerúndio”, feliz ou não. 

E o que seria esse “estado gerúndio”?

O “estado gerúndio” é o profissional, que como eu e você, esta dentro desse sistema porque precisa estar trabalhando, produzindo, realizando, mesmo sem ter a certeza do motivo pelo qual se esta ali. Mas, só pelo motivo de estar na empresa tal, no escritório tal, ter feito a faculdade tal, ou mestrado tal, já vale estar aqui, ali, em são Paulo, ou Londres.

Só sei que os frutos desse mercado dinâmico para nós gerúndios da pirâmide, que muitas vezes deixamos nossa vida profissional e sustentabilidade financeira remar na maré de oportunidade em oportunidade, aguardando maiores descobertas territoriais, para quem sabe chegar um dia no topo dela; podemos nos surpreender e naufragar no caminho devido a barquinhos mais novos, rápidos, inteligentes e baratos.

A pergunta que fica é... erro do sistema, do corporativo, do mundo dinâmico ou do nosso “plano de carreira financeiro-pessoal”?

Carreira, conhecimento alocado, acumulado, cargo, salário, status ou barraquinha de pipoca?

Vamos comparar o “Profissional” com o cara da “barraquinha de pipoca”. O primeiro começa assistente, que vira analista, que vira coordenador, que vira gerente, que quem sabe vira diretor - e não necessariamente ganhando  bem, o suficiente para comprar e manter um apartamento, carro, mulher, dois filhos, viajar – tudo isso, em mais de uma década de investimento em salários meritocráticos sofridos, noites e noites viradas e participação nos lucros onde o único objetivo é enriquecer o bolso dos acionistas e não o dele.

Já o pipoqueiro tem a sua barraquinha que fatura X por semana, no fim de um ano, ele sabe se pode comprar outra barraquinha, fazer um financiamento da casa ao mesmo tempo que paga a escola dos filhos. Planejadamente, ele cresce um pouquinho sem grandes ambições, tem a vidinha dele, a casa, criou dois filhos, investiu num taxi e terá um futuro feliz e sustentável sem lapidar patrimônio nenhum, sem depender do corporativismo e sem ter conhecimento estocado acumulado alocado desperdiçado.

Nessas horas é que eu me pergunto quem é mais inteligente e feliz nesse mundo capitalista, moderno, dinâmico e volúvel... eu, você ou o pipoqueiro?

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O Joselito da Conectividade


Segunda-feira - e Carlos chega pontualmente ao seu trabalho. Mais uma semana feliz se inicia.

Computador ligado, ipod na orelha, iphone na mesa, ipad e nextel também. Skype, MSN, Gtalk, twitter, mercado de ações, facebook, outlook... tudo online e pronto para iniciar o trabalho.

Na sua conectada e pesada rotina diária de 10 - 12 horas de trabalho, o simpático e eficiente Carlos ainda conseguia descer para fumar uns cigarros, tomar cafezinhos na copa com o pessoal, ter alguns agradáveis almoços e outros excelentes e comemorativos Happy Hours para aliviar o stress – afinal, o mundo corporativo enlouquece qualquer um!

Mas, aquela segunda-feira não seria como todas as outras...

- Carlos, Bom dia! – disse seu diretor.
- Bom Dia Ronaldo, tudo bem?
- Tudo... podemos ter uma conversa na minha sala?
- Agora? – perguntou Carlos se desembolando do fone do ipod – ao mesmo tempo em que terminava de  twittar pelo iphone e  olhar o mercado pela tela do ipad sobre a mesa...
- Sim... – disse Ronaldo, já seguindo para sua sala.

Carlos, minimizou as 5 janelas de chat - entre skype, MSN, Gtalk, mandou o seu último “curti” pelo facebook e sem que desse tempo de colocar “indo para a sala do chefe para mais uma reunião inútil” – foi para a sala do chefe.

- Carlos, sei que você já está a alguns anos na organização, mas estamos passando por uma reestruturação entre as áreas... e com o objetivo de reduzir custos e aumentar a produtividade... infelizmente não conseguiremos manter você.... – falou Ronaldo de forma bem direta, já pegando os papeis da rescisão de contrato.
- Como assim Ronaldo? – falou Carlos completamente indignado – Você só pode estar brincando comigo!! Não existe funcionário mais conectado que eu nessa empresa....
- Eu sei. E como sei... – comentou Ronaldo sem sequer desviar o olhar dos papeis.

E colocando as mãos sobre os papeis de sua rescisão Carlos continuou...

- Ronaldo, passo quase 12 horas na empresa todos os dias... faço todas as buscas, sei de todas as notícias, o que esta acontecendo no mercado e compartilho com os demais. Afinal, já dizia o meu pai que o conhecimento de nada nos vale se não compartilhado... acompanho todos, comento, gero enquetes, polêmicas, campanhas... tudo que faço é comunicado.... fora que sempre busco motivar os outros com mensagens, imagens e bons exemplos...

Antes mesmo que Carlos pudesse concluir seu belo discurso, Ronaldo o interrompeu:

- Carlos, há quanto tempo você esta trabalhando para o facebook ou para qualquer outra rede social, ou pessoal?
- Como assim Ronaldo, não entendi... nunca trabalhei para o facebook de onde você tirou isso? Nem daria, pois o escritório deles acabou de chegar ao Brasil...
- Pois é Carlos, então acho que agora é um bom momento de você enviar o seu currículo a eles, pois até onde eu sei a sua atividade aqui era de revisão, editoração e tradução de literatura Alemã... e seguindo a linha deles não “curti” nem um pouco sua inútil conectividade por aqui... e por isso, não podemos mantê-lo.... mas, nada pessoal. Te desejo boa sorte!

Moral da História: Será que foi mais uma reunião inútil, Carlos, Joana, Maria, Pedro, Iracema, Carolina...? Ou toda essa conectividade improdutiva deve ficar desconectada ao menos no horário produtivo do expediente, diria até de uma vez por todas da sua vida?

Convido a todos a pensarem o quão tomado estamos ficando por todos esses aplicativos e o quão Joselito da conectividade nos tornamos. Qual o ganho de valor na vida do outro há em saber que você esta com cólica, que seu cachorrinho fez 2 meses ou que música está ouvindo?  Qual a perda de tempo e de produtividade temos com tudo isso? “Despluguemos” da conectividade inútil e foquemos na produtividade útil!