Estamos em Janeiro e para muitos, mês de férias. Trabalhou-se arduamente o ano inteiro para poder tirá-las e finalmente ficar de pernas para o ar, descançar, aproveitar muito o dia e se deleitar no ócio – de matar qualquer um de inveja... Será? Quem realmente consegue aproveitar o ócio? Tirar férias, o relógio e deixar a não rotina levar - sem culpa de estar “perdendo tempo”? Quem hoje consegue se dar esse privilégio?
Tirar férias, sair da rotina, na minha opinião muitas vezes é mais cansativo do que manter-se nela, pois estabelecemos inúmeras missões e atividades; quando na rotina o despertador toca no mesmo horário todos os dias, o corpo automaticamente se levanta, e as roupas já estão pré-organizadas e montadas no ármario. O caminho para o trabalho e o tempo nele – já conhecidos. As pessoas - as mesas; os horários da academia, curso, almoço, jantar, buscar as crianças no colégio também os mesmos e até o próprio trabalho, muitas vezes nem precisamos pensar ao executá-lo por já estar tão dominado por nós. De quebra, como estratégia, podemos também usar a rotina como desculpa para não fazer um monte de coisas. Já nas férias, não. Pois as tiramos justamente para resolver tudo que se precisa na vida pessoal e para aproveitá-las freneticamente, só para dizer que foram maravilhosas e produtivas!
Meio paradoxal isso, não?
Você não acha que cansativo é sair da sua casa para encarar um aeroporto cheio, ficar horas e horas esperando pelo voô, para depois ficar mais horas e horas inchando, e inchando nele - feito sardinha em lata; ou ficar também, horas e horas num engarrafamento ou estrada com um sol de 40 graus – e sem um lugar decente para parar para fazer xixi, ou comer. Ou pior ainda, encarar a rodoviária local com outras milhões de pessoas suando ao seu lado, para depois ficar mais horas e horas num ônibus, com o objetivo de chegar ao lugar dos seus sonhos de férias de mala, cuia, criança, sogra, papagaio e cachooro? Ou mais cansativo e estressante ainda, ficar horas e horas resolvendo NET, cartão, transferência de endereço, arrumando casa, armário, marcando médico e jogando tralha fora? Haja paciência!
Mas ok! Tudo isso é recompensado, pelo sentimento da produtividade e de missões cumpridas. Assim, seguimos com a ilusão de que vamos descansar nas merecidas férias, mesmo com praias lotadas, lugares novos para conhecer, duzentos programas e compras para fazer, caminhos para descobrir e muita, muita fila para enfrentar. A ansia de aproveitar cada minuto das férias, fazem delas mais exaustivas que muito cotidiano! Penso que muitas vezes é preciso tirar férias para descansar das férias. Mas, como isso quase nem sempre é possível, voltamos ao trabalho, mais cansados e estafados que antes, não é mesmo?
Porém, a palavra férias é quase que mágica e tem um poder energético sobre nós - que nem Freud explica. E por mais caras, cansativas e engordativas que sejam - o simples fato de se quebrar a rotina, viver, ver e experimentar coisas novas - descansa, oxigena, exercita e alimenta o cérebro, corpo e mente. Parece que precisamos disso para fazer valer tanto trabalho – mesmo acreditando que se manter na “mesmisse” é bem menos cansativo que esse movimento todo! Afinal, planejar, aproveitar e pagar as férias é uma missão e tanto!
Vale lembrar que as férias não são só para aproveitar cada minuto até a última gota, como se fosse a única oportunidade de fazer tudo aquilo que não se pode quando estamos “presos” na rotina padrão. Precisamos aprender a nos desacelerar e saber usufruir as descobertas do ócio, para que o corpo, mente e espírito relaxem e descansem. Fazemos pouco isso. E ao contrário do que se pensa, esse ócio aproveitado, esta longe de ser perda de tempo, mas sim mente sã, corpo são, no estilo Carpe Dien!